Economia
A caminho do fracasso.
Que
bom ler hoje na FOLHA o reconhecimento pelo Bresser-Pereira que, afinal, a
Argentina não é um exemplo a ser seguido.
Liberalismo econômico e desenvolvimentismo são duas formas
de organização econômica e social do capitalismo e dois estilos de política
econômica. Nesta segunda acepção, a escolha do estilo envolveria uma troca:
mais estabilidade no liberalismo, mais crescimento no desenvolvimentismo.
Na
realidade, o liberalismo econômico rejeita deficit públicos, mas aceita deficit
crônicos em conta corrente, o que o deixa sujeito a crise de balanço de
pagamentos.
Já
o desenvolvimentismo competente rejeita ambos os deficit, e promove crescimento
com estabilidade, enquanto o desenvolvimentismo populista aceita os dois
deficit, e acaba não logrando nem crescimento nem estabilidade.
As
políticas econômicas liberais, ao aprovarem deficit em conta corrente crônicos,
estão praticando populismo cambial: pensam que promovem o aumento do
investimento, mas, ao levar o país como um todo a gastar mais do que suas
receitas de exportação permitem, apreciam o câmbio, incentivam mais o consumo
do que o investimento e, afinal, levam o país à crise.
O caso argentino mostra como um desenvolvimentismo que
começou competente pode derivar para o populismo fiscal e cambial
("fiscal" se o Estado gastar irresponsavelmente, "cambial"
se o país como um todo fizer o mesmo).
Depois
de uma brutal crise causada pela adoção de políticas ortodoxas, o peso se
desvalorizou. O novo governo que surgiu da crise estabeleceu uma retenção sobre
as exportações de commodities que neutralizou a doença holandesa e produziu
superavit em conta corrente; ao mesmo tempo, adotou política fiscal
responsável, alcançou superavit fiscais e reestruturou sua dívida externa com
coragem e firmeza.
O
resultado foi o surgimento de oportunidades de investimento lucrativo para as
empresas. A taxa de investimento aumentou, e o país cresceu a taxas
elevadíssimas durante vários anos: em média, 8,5%.
Entretanto,
em 2007, a inflação, que estava em torno de 9%, saltou para 18%, devido a um
crescimento acelerado dos anos anteriores.
O
governo, no quadro do pleno emprego, ao invés de adotar políticas duras e
ajustar a economia, segurou o câmbio para controlar a inflação, e aumentou a
despesa pública. Em consequência, o peso valorizou-se 41% entre 2007 e 2012, o
país perdeu competitividade e entrou em deficit em conta corrente.
Devido
a essa combinação de populismo cambial e fiscal, em 2012 o crescimento do PIB
foi de apenas 1,9%, enquanto surgia novamente um mercado paralelo de dólar,
hoje comprado pelo dobro do preço oficial, porque o medo de nova crise cambial
ressurgiu na população.
Durante
um tempo, vendo a responsabilidade fiscal, o superavit em conta corrente e a
neutralização da doença holandesa, acreditei que os argentinos haviam aprendido
a administrar o câmbio e a garantir a competitividade do país, e que poderiam
ser um exemplo de novo desenvolvimentismo para o Brasil, que até hoje não
aprendeu essa lição.
Mas,
com tristeza, vejo agora uma estratégia de
desenvolvimento que poderia ter garantido prosperidade e estabilidade para a
Argentina caminhar para o fracasso.
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