Economia


Para que serve a faculdade?

Para Que Serve A Faculdade?
Claudio L. S. Haddad 13/08/00

Há cerca de um mês atrás, Larry Ellison, fundador e presidente da Oracle fez um discurso provocativo e polêmico. O palco foi a formatura dos alunos de Yale, uma das mais antigas e tradicionais universidades americanas, famosa entre outros diplomandos, por um dos maiores compositores de todos os tempos, Cole Porter, que aliás compôs seu hino. Ao se dirigir aos alunos, Ellison disse que eles eram simplesmente um bando de “losers”, que estavam irremediavelmente perdidos pela educação formal recebida e que, em função disto, jamais poderiam aspirar ao clube dos super ricos.

Para substanciar esta afirmação citou seu próprio exemplo, como segunda maior fortuna do mundo, Bill Gates, primeira, Paul Allen ( sócio de Gates ) terceira e Michael Dell, da Dell Computers, em nono lugar. Todos como ele “college dropouts”, que abandonaram a faculdade antes de se formarem. Simultaneamente exortou a todos os demais alunos de Yale que seguissem este exemplo e também abandonassem a universidade antes que fosse tarde demais.

Deixando de lado o teor provocativo e arrogante com que o discurso foi proferido - sempre é bom atear-nos ao conteúdo do que é dito, e não à forma ou personalidade de quem diz – a proposição de Ellison merece análise. Afinal de contas, se ela for verdadeira, voces não somente estarão perdendo tempo e dinheiro no Ibmec. Estarão também perdendo para sempre a oportunidade de virarem super ricos.

Subjacente a esta análise está, primeiro, um sistema de valores. Claro que, embora a maioria das pessoas quando confrontadas com a idéia de ter algumas dezenas de bilhões de dólares, a encarassem com enorme simpatia, muito poucas colocariam isto como principal objetivo em suas vidas. Mas o ponto principal do discurso não é este, mas sim a proposição de que educação superior seria nociva à acumulação de grandes fortunas.

É importante enfatizarmos “grandes fortunas”. Pois se não estivermos falando de grandes mas sim de pequenas fortunas geradas pela renda dos indivíduos ao longo de suas vidas, o veredicto é claro: os retornos pecuniários da educação superior são comprovadamente elevados, especialmente no Brasil, e vêm aumentando nos últimos anos. Sempre se pode citar casos de indivíduos com pouca educação formal e que com muito trabalho e dedicação conseguiram chegar lá, mas a verdade é que, em média, mais anos de escolaridade estão associados a maiores níveis de renda, e consequentemente de riqueza.

Já no caso dos muito ricos ou super ricos, não creio que a relação seja tão clara. Quando examinamos a lista dos bilionários, ou a dos empresários muito bem sucedidos, tanto no Brasil quanto no resto do mundo, vemos muitos pontos coincidentes entre eles: garra, obstinação, intuição ( ao contrário de inteligência formal ), uma enorme capacidade de trabalho e uma fixação absoluta em seus negócios. Elevada educação formal não é uma destas características comuns.

A falta de escolaridade poderia ser um motivador para o sucesso? Talvez, através do princípio “apesar de não ter um diploma vou mostrar que sou melhor do que eles”. Mas aí estamos entrando no campo da psicologia, que decididamente não é o meu forte. Muita educação pode ser nocivo? Sim, se tornar a pessoa analítica e crítica demais, retirando dela garra e intuição – ver por exemplo o conhecido livro Inteligência Emocional. Quanto a isto, Alan (“Ace”) Greenberg, o conhecido presidente da Bear Stearns, um banco de investimentos americano ( na realidade mais uma grande corretora do que um banco ), gostava de dizer que ele não contratava Ph.D.’s e sim P.S.D.’s , isto é, “poor, smart and extremely desirous to make money” ( pobre, esperto e com muita ambição ). Por muitos anos ele foi muito bem sucedido com esta fórmula.

O problema é quando examinamos casos como o de Gates e Ellison, somos influenciados pela “seleção adversa”. Eles não completaram a faculdade e viraram super ricos, mas o que aconteceu com os muitos outros que também não completaram? Ou, será que a proporção de super ricos na população de pessoas sem curso superior é maior que de super ricos na de pessoas que completaram faculdade? E como, a priori, determinar entre os alunos que estão cursando faculdade quem vai conseguir chegar ao clube dos bilionários ao abandonar o curso?

Por via das dúvidas é melhor continuar estudando. O curso do Ibmec não vai lhes garantir uma grande fortuna, mas vai deixá-los em situação muito privilegiada face à concorrência. Já é um grande passo.



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