Economia


Nem tudo na vida é motel (II)

Mais uma, para você pensar. Em uma outra sala de aula, discutíamos o salário eficiência, isto é, o fato óbvio (para mim) referente à possibilidade de empresas terem interesse em pagar acima do salário de mercado.

Óbvio? Claro. Por que o que importa não é a quantidade de horas de trabalho contratadas, mas sim sua eficiência. Por exemplo, imagine que L = horas de trabalho. Ok? Bem, você contrata L horas mas eu só trabalho eL, onde 0 =< e <= 1. Chame "e" de efetividade do trabalho (ou de eficiência do mesmo) e você percebe que só há duas formas de me obrigar a forçar e = 1: (a) pague um supervisor (ou gaste com vigilância) ou (b) dê-me um salário maior.

Got it?

Pois é. Na sala de aula surgiu a questão dos caras que multam os motoristas. A discussão estava caminhando para um beco sem saída. Alguns diziam que o cara deveria multar mais para ser mais eficiente, outros diziam que multar mais era pior. No fundo, a questão que estava passando desapercebida era a seguinte: existe um número de multas ótimo.

Mas, o que é "ótimo" neste caso? É o ótimo social. Suponha que o salário do guarda seja composto de w = x + b*k(m) onde x é a parte fixa e k(m) é a função k(.) onde m = número de multas. Ok, ok, digamos que dk/dm > 0 (usualmente eu ainda faria a hipótese de que d2k/dm2 < 0 mas vamos em frente). Isto apenas nos diz que o salário do cara aumenta com o número de multas. E "b"? Espere um pouco. Já explico.

Então o ideal é ele multar muito, certo? Errado. Lembre-se que o guarda é tão humano quanto você (lembre-se: você estuda economia mas ainda é tido como humano...pelo menos por sua mãe...). Assim, ele pode errar. Na minha função, "b" é este fator de distorção. Se b > 1, ele sobreestima o número ótimo de multas.

Bem, aí entra a questão do meu incentivo (minha sugestão em sala, seguida de alguns poucos aplausos e algumas piadas): monte o esquema de incentivos de forma que o guarda seja penalizado em sua comissão (antes representada por k(m)) se a multa for julgada improcedente pela JARI.

Claro, suponho que a JARI é possui interesse em ter uma reputação limpa e minimiza a possibilidade de corrupção (lembre-se: é um exemplo didático. Podemos complicar isto se quisermos mas o leitor-aluno nunca quer...alguns até se humilham dizendo-se "inferiores" para não fazerem exercícios simples, mesmo que trabalhosos...).

Acho que no caso deste post, poderíamos dizer que o novo contrato salarial seria algo como: w = x + b(j)*k(m). Veja, o que fiz foi modelar b como uma função. Antes b era um parâmetro (fixo). Agora, é variável conforme j. Digamos que j = número de multas indeferidas. Então, neste caso, eu faria alguma hipótese do tipo: se j -> infinito, db/dj -> 1.

Não é a melhor modelagem do mundo, mas meu mau humor - e minhas limitações intelectuais (famosas entre os pares da academia e cantada em verso e prosa por amigos engraçadinhos) me impedem de fazer algo mais decente agora. Espero que, ao menos, tenha despertado seu interesse, leitor(a). Palpites? Comentários? É assim na sua cidade? Como funciona? Qual o custo de bem-estar das multas erradas?



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