Economia


Me pareceu um bom texto de Denis Rosenfield:


20/10/2004
O significado da eleição municipal em Porto AlegreO que se mostra no processo que aponta para uma derrota do PT é o fim de uma certa prática de governar. O partido só fazia alianças sob a condição de satelizar e subordinar os partidos aliados. O que o eleitorado de Porto Alegre está sinalizando é que não mais aceita esse tipo de postura.

Por Denis L. Rosenfield



Em Porto Alegre, há algo mais em jogo do que uma eleição municipal, a troca de prefeitos segundo um ritual democrático perfeitamente estabelecido. A cidade tornou-se o símbolo das administrações petistas, uma vitrine nacional na qual o próprio presidente Lula se espelhava. A capital do Rio Grande do Sul veio a ser identificada com uma cidadela esquerdista inexpugnável, exemplo de como uma cidade poderia ser governada por um partido hegemônico, sem concessões a outros partidos.
Após 16 anos de administração petista, o partido decidiu manter-se puro-sangue, não fazendo alianças, senão com seus tradicionais súditos, o PCdoB e o PL. Contrariando uma tendência nacional de abertura a todos os partidos, inclusive os ditos de centro e de direita, como o PMDB e o PP, o PT municipal optou por apresentar o ex-prefeito Raul Pont como candidato. A escolha é reveladora, pois ele é líder da tendência “Democracia Socialista”, conhecida por ser trotskista e de extrema esquerda. Sua concepção da democracia consiste em ser contra a democracia representativa, por ser formal e burguesa, seguindo os antigos manuais marxistas. Mais especificamente, segundo documentos dessa tendência, o governo Lula seria um governo de “transição ao socialismo”, preparatório, portanto, a um Estado autoritário. A democracia seria, então, nada mais do que um instrumento para uma refundação da sociedade e do Estado conforme os modelos do comunismo-trotskismo de antanho. E não me refiro a documentos antigos do partido, mas a posições novas do ponto de vista de sua publicação e velhas segundo o seu conteúdo.
Ao optar pelo “velho” em sua escolha para representar o partido em Porto Alegre, os seus núcleos dirigentes se posicionaram contra as tendências reformistas atuantes em escala federal. Aliás, os recursos a imagens televisivas do presidente e ao publicitário Duda Mendonça não deixam de apresentar uma certa incoerência, pois trazem para essa cidade o antigo publicitário de Maluf e procuram capitalizar a popularidade do presidente, que se ancora em sua política macroeconômica. Ora, essa mesma política é considerada como “neoliberal” pelos representantes do trotskismo tupiniquim. Essas incoerências não deveriam mais nos surpreender, pois o próprio Maluf apóia Marta Suplicy em São Paulo. Até então, a própria prefeita considerava o ex-prefeito como “nefasto”. Quem é nefasto? Os que abandonaram os princípios ou os que sempre se utilizaram dos recursos públicos com fins privados? Ou, inclusive, haveria já uma inversão de posições num amálgama entre o público e o privado?
Valores morais são abandonados e princípios republicanos são recusados. No vale tudo de uma eleição o PT de antigamente se mostra um partido qualquer como se as falas de outrora não tivessem nenhuma validade. Ética na política, quem se lembra ainda? A democracia – bem maior dentre todos da política – torna-se algo apenas particular, sendo instrumentalizada segundo as conveniências partidárias. Acuado, o PT municipal multiplica as agressões, como se fosse o representante da verdade, numa postura de tipo dogmática.
Logo, o que se mostra nesse processo que aponta para uma derrota do PT é o fim de uma certa prática de governar, ancorada nas tendências mais à esquerda do partido. Numa forma particular de fazer política, depois exportada para todo o país, o partido só fazia alianças sob a condição de satelizar e subordinar os partidos aliados. Ou o partido era hegemônico ou a aliança não se fazia. O que o eleitorado está sinalizando é que não mais aceita esse tipo de postura, cujo fundamento reside numa identificação, de cunho stalinista, entre o estado e o partido.
Se atentarmos para as últimas eleições, constataremos que o PT vem perdendo força. Na eleição anterior para prefeito, o partido ganhou em segundo turno, depois de ter alcançado perto de 50% dos votos. Na eleição para governador, o governo petista, representado por Tarso Genro, perdeu para Germano Rigotto, do PMDB. Surpresa geral, Lula venceu em Porto Alegre por apenas 3.000 votos, o seu menor número em várias eleições. Pont, segundo as últimas pesquisas, tem em torno de 40% dos votos, perdendo para Fogaça (PPS), com um pouco mais de 50% dos votos. Se a derrota do PT se consumar, ela será a culminação de um processo de profunda mudança na opinião pública gaúcha e porto-alegrense. A vitrine nacional terá quebrado e seus estilhaços podem cair em qualquer lugar do Brasil.



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