Economia
Extra-blogTenho de me desculpar com o Olavo de Carvalho pelo menos em um ponto: deixei-me levar pelos meus amigos que diziam que suas análises, quaisquer que fossem, não valiam nada porque ele era....astrólogo.
Pois é.
Astrólogo ou não, eu não acredito em astrologia. Mas ele falava de uma praga que infestou a sociedade norte-americana e que, paradoxalmente, os anti-imperialistas nacionais viviam insistindo em importar dos EUA (mais uma vez, em suas explicações, isto era até mais claro do que diziam meus amigos, independente da astrologia). E olha que ele se preocupava com isto há, pelo menos, uns 6 anos...
Vejam só o episódio da semana. Após uma reforma universitária tida como autoritária (não sou eu quem digo, basta ler as opiniões de autoridades bem distintas sobre o tema) e um "Conselho Federal de Jornalismo" (precisa criticar?), para não falar de outras coisinhas, eis que agora me vêem com esta de "politicamente incorreto". E, pior ainda, cheio de tendenciosidade.
Se João Ubaldo é reacionário, se Reinaldo Azevedo é reacionário, então eu sou astrólogo. Embora haja um texto do João Ubaldo sobre isto em algum jornal, veja este do Reinaldo.
Trechos:
Reparem o que diz a polícia de pensamento petista, por exemplo, sobre o termo “comunista”: “COMUNISTA: contra eles foram inventadas calúnias e insultos, para justificar campanhas de perseguição que resultaram em assassinatos em massa, de caráter genocida, como durante o regime nazista na Alemanha”. Ainda que fosse verdade, isso faria dos “comunistas” vítimas, certo? E, por vítimas que fossem, deveríamos banir a palavra, alcançando, assim, aquele que seria o intento de seus perseguidores? E a redação, hein? Aquele “eles” do texto remete a qual substantivo? Vamos aos conceitos. Como é? “As calúnias contra os comunistas (...) resultaram em assassinatos (...) de caráter genocida”? Comunismo agora é um “geno”, no sentido que a palavra tem no dicionário? Tornou-se etnia, raça ou religião? A redação é atribuída a um certo Antonio Carlos Queiroz, professor da Universidade de Brasília. Ele dá aula, é?
Mas isso ainda não basta. Os comunistas é que cometeram assassinatos em massa! Em número de mortos, a canalha nazista perde feio! E isso não é calúnia. Se o Queiroz quiser, eu lhe forneço bibliografia incontroversa. Considerando-se apenas China, União Soviética e Camboja, “comunismo” pode ser sinônimo de assassinato pelo menos 90 milhões de vezes: 60 milhões de mortos por Mao e amigos, 27 milhões por Stálin e corriola e 3 milhões por Pol Pot e facinorosos aliados. A conta chega facilmente a 120 milhões se incluirmos na lista os países satélites da extinta URSS na Europa, os massacres na África e as maluquices na América Latina. Nenhuma outra ideologia ou ditadura matou tanto, ó Queiroz! Onde foi que seus livros passaram os últimos 50 anos, rapaz? Bem, bem, eu também acho ofensivo chamar alguém de “comunista”, mas os comunistas têm orgulho de sua própria obra. Por que haveríamos de protegê-los de si mesmos? Pena eu tenho é de suas vítimas.
A listinha mostra especial predileção — alô, Freud! – por expressões que remetem a questões sexuais: propõe alternativas para “baitola”, “gilete”, “veado”, “sapatão” e “mulher de vida fácil”. Não diz nada sobre “burro”, “mula”, “besta”, “anta”, “asno”, “orelhudo”, “zebra”, “quadrúpede” ou “vira-lata” para designar os estúpidos. É o que dá fazer uma cartilha para a Secretaria dos Direitos Humanos sem consultar a Sociedade Protetora dos Animais. Nada ofende mais Pipoca Maria Corintiana da Silva, a minha cadela da boa raça que se mistura nas ruas e nos becos, do que ser comparada a certo tipo de gente. Ela só rosna quando invadem o seu pequeno reino, não mais do que os 80 centímetros quadrados de um estofadinho em que dorme, mas onde é soberana. Até um cachorro tem direito de que o deixem em paz.
Para sua saúde mental, realmente faz bem ler todo o texto do Reinaldo (e ele não pode, definitivamente, ser chamado de liberal, reacionário, ou qualquer outro adjetivo que, provavelmente, não consta da tal cartilha).
Mediocridade 3 x 0 Bom senso (e estamos na prorrogação).
Desculpe-me o desabafo, leitor, mas é que dá náuseas ver como as pessoas se divertem com notícias sérias ao mesmo tempo que reclamam de que nada muda. Pior, pensam que delegar poderes a alguém para fazer algo por elas (através do voto) é sinônimo de delegar a indignação. Não é. Mas talvez "um outro mundo seja possível" mesmo. Para os autores da cartilha, pelo visto, ele não prescinde de recomendações estranhas...
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Vejam, não estou...
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