Economia
"A Economia em Pessoa"
Verbetes contemporâneos e ensaios empresariais do poeta
Gustavo H. B. Franco (organização, introdução e notas)
Editora Zahar, Rio de Janeiro
[...] «Pelo que já foi dito, pouco tem de acidental o interesse de Pessoa por economia em 1926, quando se associa a seu cunhado Francisco Caetano Dias na empreitada de editar e escrever uma revista dedicada ao comércio e à contabilidade. Gaspar Simões mal se refere a essa distração de Pessoa; era uma época em que "tudo o dispersava, tudo o entretinha, tudo era pretexto para se deixar ficar ali sentado, ouvindo, bebendo, fumando, conversando sem fazer nada de sólido: com sua obra em fragmentos à espera de uma mão poderosa para consolidar". Mesmo Alfredo Margarido observa que "parece existir uma espécie de contradição entre o percurso poético e o interesse consagrado, seja ao comércio, seja à teoria económica. Porém, à luz de suas amplas e variadas actividades empresariais, nada há o que estranhar. Pessoa já tivera uma experiência mal sucedida com a Tipografia Íbis, como conta Mega Ferreira: "Entre 1909 e 1912, Fernando Pessoa passara de herdeiro desafogado a poeta endividado". Mas em vez de abater-se, Pessoa prossegue com outras empreitadas, seja envolvendo-se com os aspectos económicos das publicações vanguardistas em que contribuiu como autor (
Orpheu e
O Portugal futurista), seja em intensa actividade como corrector de concessões de mineração em Portugal e nas colónias.
«Em 1921 inicia o ambicioso projecto da Olisipo, que compreendia de início apenas uma editora, mas cuja ambição ia bem além, tal como estão minuciosamente relacionadas no projecto de constituição da Cosmopólis, que listava, em seu objecto social, exactas 88 actividades divididas em quatro grupos: informação comercial, ideias editoriais e literárias, prestação de serviços de "consultadoria" e organização da própria empresa. Olisipo não prosperou, mas, como informa Mega Ferreira:
Não há números, nem balanços, nem sequer lamentações posteriores do que, presumivelmente, terá sido mais um desastre financeiro na vida de Pessoa. Aliás, não parece que o Poeta tenha sido homem de desânimos... Como já antes acontecera, Pessoa renascia de cada insucesso com a sua determinação empresarial intacta.
«Em 1926 Pessoa estava no auge dos seus interesses empresariais, "anos de brasa", como diz Mega Ferreira, mas também uma época em que as dificuldades financeiras oriundas do fracasso da Olisipo, sua saúde frágil, em boa medida decorrente dos abusos do álcool e do tabaco, o levaram "a empregar os seus talentos e aptidões comerciais de maneira a obter uns dinheiros com que pudesse encarar confiadamente os anos que lhe restavam de vida". A necessidade parece assinalar o auge de sua actividade como publicitário, inventor, corrector de minas; é quando começa a editar a
Revista de comércio e contabilidade. Caetano Dias, o cunhado, era o profissional, o especialista reconhecido em questões contábeis, e Pessoa o amador, conforme descreve Bréchon:
Isso dá-lhe uma liberdade de atitudes de que o cunhado é incapaz, pois não tem nada de fantasista. Ainda quando finge tratar de forma rebarbativa questões entediantes, Pessoa denuncia-lhe a originalidade fundamental por meio de ditos espirituosos ou de efeitos estilísticos. Comparemos-lhe os escritossobre comércio com os de Mallarmé sobre moda: ambos têm o dom de zombar imperturbavelmente do mundo.
Índice e capítulo "Gustibus já tinha comentado: «O poeta português Fernando Pessoa era um defensor de idéias econômicas liberais, que podem ser apreciadas (ou lamentadas) por seus admiradores em A Economia em Pessoa, livro organizado e prefaciado por Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central (BC) e diretor-executivo da Rio Bravo, empresa de serviços financeiros que editou a obra. O livro contém 11 artigos originais de Pessoa sobre temas econômicos e comerciais (um deles, uma coletânea de pequenos textos) e uma entrevista fictícia elaborada pelo escritor João Alves das Neves, presidente do Centro de Estudos Fernando Pessoa.»
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