«Para aqueles que entram no mundo da finança vindos de disciplinas mais tangíveis, deve ser agradável encontrar um conceito familiar entre todas aquelas estranhas e aparentemente arbitrárias novidades. Esse conceito surge sob a forma de uma variável representada pela letra t (ou T) e é vulgarmente conhecido como tempo. «Mas pode demorar algum tempo até se descobrir que este t, o tempo financeiro, não é a mesma coisa que o mais familiar t — o tempo físico onde a maioria de nós vive e que os relógios medem. Não é que esse tempo dos relógios não conte na finança; conta, mas não tanto como se possa imaginar. O tempo absoluto, tal como a data de validade de uma opção, é (a não ser que uma transacção ou a SEC decida de outra forma) usualmente absoluto. Mas a velocidade a que o tempo financeiro passa, aí é outra história. «O campo da Economia descobriu há muito que não é necessário que o tempo financeiro passe de modo uniforme. Na formalização da teoria do equilíbro geral de Arrow-Debreu que está subjacente a muita da moderna finança, a noção de tempo financeiro está apenas vagamente relacionada com o tempo físico. Enquanto o tempo físico parece existir para que não aconteça tudo ao mesmo tempo, o tempo financeiro é apenas necessário como janela através da qual o risco e a incerteza possam entrar na teoria económica. No mundo de Arrow-Debreu, o tempo flui enquanto quiser, desde que exista um acordo geral sobre a ocorrência de certos pontos no tempo. Por outras palavras, o tempo financeiro flui tal como uma seta [Arrow] socialmente construída. «Embora fosse habitualmente considerado como garantido que o tempo nos modelos financeiros e económicos era idêntico ao tempo físico, depois surgiram dúvidas. Àluz da crescente evidência empírica de que os rendimentos de activos não derivavam de distribuições noemais independentes e idênticas, como muitos modelos financeiros populares assumem, viu-se que algo estava errado e foi no tratamento do tempo que se procuraram respostas. Se o mundo financeiro obedecesse realmente às leis físicas, faria sentido ( através do teorema do limite central) que os rendimentos de activos fossem, ou distribuidos normalmente, ou derivados de um processo normal. Ao mudar a forma do tempo financeiro, de uma trajectória linear deterministíca para algo mais exótico — não necessariamente contínuo e certamente não determinístico — talvez se consigam reunir os reinos financeiro e físico. «Quando um mercado sofre um dos seus ocasionais episódios de volatilidade, por exemplo, pode acontecer simplesmente que o relógio tenha começado a andar mais rápido. O que os relógios medem como um simpes hora no mundo físico pode muito bem corresponder a um dia, uma semana, um mês ou até um ano de tempo financeiro.» [...] Ross M. Miller "The Shape of Financial Time" |