Economia
Vladimir Safatle: produto de um sistema educacional falido
Eu costumo ter uma paciência de Jó quando leio as obras de nossos “cientistas humanos,” pelo mesmo motivo que não fico impaciente quando meu cachorro se recusa a ler a bíblia. Mas paciência é finita, enquanto a capacidade de zurrar asneiras de algumas bestas que se passam por intelectuais pode ser infinita. Então vou dedicar algumas linhas para aquele que talvez seja o maior charlatão posador em atividade no Brasil.
Veja o que o metrequefe intelectual do Vladimir Safatle escreveu na Folha de hoje:
Virou lugar comum usar a Coréia do Sul como modelo de desenvolvimento educacional. (...) para alguns, seria ótimo imitar o modelo de um país que, no fundo, nem sequer conhece o que é pesquisa em ciências humanas e não tem sequer um pólo real de influência em várias áreas do saber. Pois tais pessoas não acreditam que “educação” seja o nome que damos para um processo de formação do pensamento crítico, de desenvolvimento da criatividade e da força de mudança, de consolidação da capacidade de se indignar moralmente, de refletir sobre a vida social e de compreender reflexivamente as múltiplas tradições que nos geraram. (...) Para elas, “educação” é só o nome que damos ao processo de formação de mão de obra para empregos precários e mal pagos. Mesmo do ponto de vista do desenvolvimento social, tal escolha é catastrófica.
Mein gott, Camarada Safatle.
Primeiro, a hipérbole final sobre a catástrofe é patética. O resultado de qualquer política educacional coreana – a qual você claramente desconhece – não foi catastrófico, como o próprio sucesso econômico e de desenvolvimento social da Coréia do Sul atesta. Na pior das hipóteses, o modelo educacional coreano não evitou que aquele país agrário, cheio de homens raquíticos e destruído pela guerra se tornasse rico, saudável e industrializado
Segundo, o papo furado de desenvolvimento da criatividade e força de mudança é isso, papo furado. A Coréia do Sul se reinventou de país agrário para país de economia avançada em duas gerações. Se criatividade e força de mudança fossem algo que eles não tinham (uma idéia despudoradamente ridícula), tudo que o sucesso coreano provaria é a desnecessidade daquilo que Safatle define como criatividade. Ainda mais se lembrarmos que somos do Brasil, um dos países de produção cultural mais pífia do mundo, onde até o texto de dar vergonha do Chico Buarque merece prêmios literários.
Terceiro, o mesmo vale para a pesquisa em ciências humanas. Se os coreanos não sabem de ciências humanas e ainda assim conseguiram se tornar mais ricos, mais educados, mais lidos, mais saudáveis, mais altos, mais longevos que os brasileiros, isto é uma condenação de nossa atenção a meu ver excessiva às ciências humanas, não do modelo coreano.
Mas o mais bizarro é que apesar de também lançar sua rabugice desinformada e estereotipada contra o status quo brasileiro, o Professor Safatle não explica quais são as bases do modelo coreano nem menciona o que seria seu modelo ideal. Meu cinismo me sugere que seu artigo não foi escrito para defender um modelo educacional para o Brasil, mas sim o status quo do quinhão do FFLCH na divisão de verbas da universidade.
Por exemplo: é possível saber que importância o professor quer dar para considerações de equidade na educação brasileira? E qual sua opinião sobre a regulação das escolas privadas? Bem, em um universo alternativo em que o professor Safatle é um intelectual honesto que tenta aprender sobre o que escreve antes de escrever, ele se sentiria obrigado a mencionar que o conceito de equidade é central ao sistema educacional coreano (em total oposição ao nosso sistema), e que o sistema educacional coreano por décadas praticamente aboliu por meio de regulação a possibilidade que a elite econômica pudesse se perpetuar por meio de acesso a escolas privadas diferenciadas.
O Professor Safatle (acima) gostaria de privilegiar uma educação que consolida a capacidade de se indignar moralmente – talvez para compensar o déficit de indignação moral daqueles que o batizaram?
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