Vivendo na China: Quais as impressões do dia-a-dia de um brasileiro na China
Economia

Vivendo na China: Quais as impressões do dia-a-dia de um brasileiro na China


 
 João Ricardo Trevisan de Souza    

          É bastante comum ver na mídia ocidental críticas aos baixos salários e a baixa qualidade de vida da população chinesa. Qualquer estrangeiro que visita o país, no entanto, volta para a casa com uma sensação diferente daquela que se tem ao ler os jornais. As principais cidades, sejam elas na região costeira ou no interior do país, são modernas, seguras e oferecem uma rede de serviços básicos decente.
            Primeiramente, é necessário destacar que pobreza na China é um fenômeno reduzido a zona rural. De acordo com os dados oficiais do governo, 2,8% da população rural vive abaixo da linha da pobreza, nas cidades, virtualmente, não há moradores nessa situação. É necessário destacar, porém, que a linha da pobreza adotada pelo governo chinês é ligeiramente abaixo daquela estabelecida pelo Banco Mundial. Caso adotemos a linha estabelecida globalmente, a porcentagem de miseráveis sobe para 12,5%.


           Mais importante do que a parcela da população ainda vivendo na pobreza, é a rápida tendência de aumento da renda seja no campo ou na cidade (é fato também que existe uma grande diferença entre a velocidade do aumento da renda no campo e nas cidades e que isso gera graves problemas, mas esse tópico não será abordado aqui). Independentemente do modelo utilizado para avaliar a pobreza, desde  1978, pelo menos 200 milhões de pessoas ultrapassaram deixaram de ser miseráveis. No gráfico abaixo, fica evidente o movimento destacado acima:


fonte: Barry Naughton, 2004
(Atenção: Desde parágrafo em diante, consta apenas uma descrição de minha experiência na China, com exceção do tópico educação, não há nenhum dado ou estudo científico para comprovar)
            Voltando as cidades, as grandes zonas urbanas chinesas (mais de um milhão de habitantes) em geral possuem uma qualidade de vida alta. Abaixo selecionei alguns serviços públicos e características que merecem destaque:
Transporte: O transporte público chinês é extremamente eficiente.  Em quase dois anos utilizando ônibus e metro, nunca esperei mais de dez minutos por uma condução. É verdade que muitas vezes os ônibus estão superlotados, mas nada assustador para quem mora em cidades grandes no Brasil. Além disso, as cidades possuem um grande número de taxis (a preço acessível) e rede de ciclovias.
            Para viagens de longas distâncias, o país é cortado por uma extensa rede ferroviária. Grande parte desta rede ainda é composta por trem de média velocidade (100km), porém em várias regiões do país já existem trens de alta velocidade. A viagem de Chongqing a Beijing (2000km) dura aproximadamente 24 horas e o preço da passagem varia de R$60 até R$200 de acordo com o tipo de assento.
Segurança: A violência urbana, como conhecemos no Brasil, é quase que inexistente na China. Durante o dia ou a noite o risco de ser assaltado ou sofrer qualquer tipo de violência é perto de zero.
            Embora o número de policias na rua não seja alto, o sentimento  da população é de total segurança. O único tipo de assalto que eu tenho notícia é roubo de celular e carteira.
Saúde: O sistema público de saúde talvez seja um dos pontos mais fracos das cidades chinesas. As cidades possuem diversos hospitais, porém muitos deles não respeitam os padrões sanitários.
            Em dois momentos precisei utilizar o sistema público chinês (que por sinal é pago). Em ambas as vezes recebi um excelente tratamento a um preço bastante baixo. No entanto, estava em um dos melhores hospitais da cidade. Não acredito que o padrão seja o mesmo em todos os lugares.
            Além disso, a população local não possui seguro saúde. E em caso de doenças complexas e de tratamento caro, a situação é bastante delicada.
Educação: A educação de base na China é bem estabelecida. Cerca de 91% da população sabe ler e escrever, e grande parte dos 9% de analfabetos está acima dos 68 anos de idade.
O sistema de educação superior vem crescendo fortemente nos últimos anos, mas a porcentagem de alunos que ingressam no ensino superior ( com relação a países desenvolvidos )ainda é limitada.
            Em suma, a vida nas cidades chinesas é bastante fácil e confortável. Obviamente, a descrição acima não foi feita por um chinês e possui todo e qualquer tipo de viés. Um nativo chinês provavelmente possui diversas críticas aos serviços públicos, no entanto, o objetivo é oferecer uma breve comparação da vida no Brasil e a vida na China.
João Ricardo Trevisan de Souza    
Bibliografia
Barry Naughton – The Chinese Economy 2004






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