Economia
Universidades amuadas
Ontem fizemos aqui referência ao
ranking das universidades portuguesas elaborado por Sousa Lobo. Hoje o jornal Público dá conta das reacções de desagrado da maioria das universidades - com excepção da primeira classificada, a de Aveiro.
Há argumentos para tudo - desde o dizer-se que "os números não batem certo" até à "suspeita" pelo facto de a divulgação do documento numa altura em que os alunos estão a fazer as suas matrículas. Há mesmo um reitor (da U.Minho) que diz que "nos ouvidos dos alunos vai ficar uma coisa que não vale a pena". Há muitos argumentos no sentido de que não é adequado comparar universidades como um todo, que se deviam antes ter comparado áreas científicas, etç. O que não falta aos senhores reitores é imaginação.
O certo é que, fundamentalmente, ninguém põe em causa os números. O estudo faz um
ranking mas indica qual o critério utilizado: nº. de artigos publicados em revistas científicas por universidade e por professor. Não sendo um indicador absoluto, é dos melhores indicadores para aferir a capacidade dos professores para terem os seus conhecimentos actualizados, capacidade de trabalho, motivação, etç.
Um argumento muito referido é o de que nas áreas das ciências sociais se publica menos do que nas ciências "duras". Ora bem, isso é precisamente o que o estudo diz. O estudo não diz que a Universidade de Aveiro é melhor do que as outras: diz apenas que publica mais, e isso há-de ser indicador de alguma coisa: o seu reitor afirma mesmo que a investigação foi definida como a prioridade da Universidade, tendo havido "uma opção pela qualidade em detrimento da quantidade, com qualificação do corpo docente, criação de boas infraestruturas e massa crítica e investimento feito pela própria universidade". Alberto Rafael indica ainda quais as áreas científicas onde têm apostado mais: ciências de materiais, telecomunicações, ciências e tecnologias de saúde.
Ainda por cima, o indicador de Aveiro (1,5 artigos por docente) fica muito acima das restantes: 0,87 para a U. Algarve e o resto abaixo disso. Lisboa - que vergonha ! - aparece em 4º lugar, pela mão da Técnica, a minha dilecta universidade.
A aposta na investigação tecnológica tem sido frequentemente indicada como uma das linhas estratégicas para Portugal; e agora que há uma universidade que apresenta um indicador positivo nesse sentido, saltam os reitores das universidades velhas a contestar a validade da informação...
É sabido o que é que faz o "prestígio" de uma Universidade: a antiguidade, a visibilidade política dos seus docentes, o número de Ministros ali formados, etç. Mas tudo isto são indicadores velhos, bons para eras passadas. E qual é o problema de uma universidade jovem ultrapassar as outras?
Eu ficaria preocupado se os srs. reitores colocassem em causa a qualidade da investigação. Ficaria na dúvida se alguns deles dissessem: publicamos pouco mas aquilo que publicamos é de suprema qualidade. Mas não.
A publicação em revistas científicas tem o mérito de garantir o controlo de qualidade dos artigos e da investigação subjacente. As revistas procuram prestígio e implantação; para isso procuram que os artigos publicados tenham qualidade e interesse. Claro que hão-de existir diferenças de qualidade entre diferentes revistas, mas a regra geral é esta. Toda a gente gosta de publicar em revistas científicas (dá prestígio, conta para o currículo, é bom para o ego) e por isso é um mercado concorrencial que assegura qualidade.
Este é um critério, não infalível, mas tem muitos méritos. É um critério usado intensivamente em todo o mundo (não só os artigos publicados, mas também as subsequentes citações desses artigos feitos por outros artigos). Terão os senhores reitores críticos um critério alternativo para nos sugerir ?
Textos relacionados, disponíveis na net:
The Universities Ranking Game, Competitive Strategies and Competitive Interactions (2004)
The Introduction of Quality Indicators in the Higher Education Institutions in Europe
The Top American Research Universities (2000)
Reinventing Europe's Universities (2004) Evaluating the Evaluators (1999)
Qualitative Aspects of Quantitative Measurements in the Age of Cyberscience
Using National Data in Universities Rankings and Comparisons (2003)
The World University Rankings (2004)
Evaluating Economics Research in Europe: An Introduction (2003)
Rankings of Academic Journals and Institutions in Economics (2001)
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