Eu acho que vale a pena tirar os livros da prateleira para resolver essa questão de vez.
Sobre o financiamento das ferrovias, vou citar o ótimo Order Against Progress do William Summerhill:
“the Companhia Paulista, organized and launched in the late 1860s, tapped mainly rural investors in the interior of São Paulo. Shares of stock for the Paulista were peddled virtually door to door in the interior of the province, along with a provincial dividend guarantee, as a means to reducing the risk perceived by investors. The very fazendeiros who stood to gain so much from the reduction of transport costs were prominent among the company’s investors.” (página 45)
“The Mogyana, another major São Paulo railroad, similarly began with local capital. Of its twenty-one founding shareholders, no fewer than seven were coffee planters, two were coffee brokers, three were merchants, and two more were lawyers, all in the region of Mogy-Mirim” (página 46).
Para quem não sabe, a Paulista e a Mogyana são as duas principais ferrovias radiais que serviam a região cafeicultora paulista do final do século XIX. A outra grande ferrovia construída nesse período, a Ituana-Sorocabana, servia uma região mais algodoeira, e também, foi idealizada e financiada por capital caipira.
Quanto ao papel dos subsídios, novamente recorro ao Summerhill, mas desta vez, o artigo publicado na Economic History Review (“Market intervention in a backward economy: railway subsidy in Brazil, 1854-1913”, http://www.jstor.org/pss/2598948). Para ir direto ao ponto, procure a tabela 1, que mostra as taxas de retorno do investimento ferroviário com ou sem garantia de dividendo, e como as ferrovias paulistas são exatamente aquelas em que os retornos aos investidores era menos dependente da garantia governamental.
Mais que isso, enquanto dentre as paulistas apenas a Sorocabana mais tarde precisou de aporte governamental antes da Grande Depressão, dentre as ferrovias de capital inglês, a Recife and San Francisco Railway, a Bahia and São Francisco Railway e a Brazil Great Southern Railway e a the Southern Brazil Rio Grande do Sul Railway acabaram estatizadas ainda durante a Velha República ou Imperio, assim como a Central do Brasil que originariamente era de capital misto público e privado). (Summerhill Order..., página 64-65).
De nada,
Tio "O"