«Ao quarto ano, abandonei o curso de Economia. Fui aluna de João César das Neves cujas aulas eram muito divertidas. A sério. O homem tem imenso jeito para explicar curvas da oferta e da procura e as piadolas sempre me pareceram inofensivas. O meu sonho era que o recrutassem a tempo inteiro como professor universitário e assim poupavam-nos às suas cruzadas moralistas nas páginas do Diário de Notícias. Os exames eram (são?) terreno fértil para a veia ficcional do académico e colunista, casos policiais em que o Detective não-sei-quantos, acompanhado da secretária Velda e dos seus decotes, resolvia mistérios e lá pelo meio, de repente, surgia uma pergunta do tipo agora calcule lá a elasticidade duma merda qualquer. Eu fartava-me de rir, mas quando as notas eram afixadas na pauta, era rara a vez que não ia para casa com um sorriso amarelo. Às tantas, já não podia ouvir expressões como "racionalidade" e "restrição orçamental" - ou não fosse eu uma gastadora irracional - e depois de dois redondos chumbos, comecei a perder a esperança de algum dia passar a Econometria II. »Mas se pensam que o problema era a matemática, desenganem-se:
«Por outro lado, sempre gostei de Matemática. A satisfação de se conseguir resolver uma equação com múltiplas variáveis, derivadas e trinta por uma linha, coisas que à partida parecem irresolúveis, é indescritível e até pode ser orgasmático. (Ok, se calhar estou a exagerar.)»O problema era mesmo a Economia, a ciência deprimente. Que às tantas ainda se descobre que é anti-orgasmática (Ok, se calhar estou a exagerar.)