Economia
Sobre a petição "Não a mais impostos" do Económico
Os impostos têm efeitos recessivos sobre a economia, constituem um desincentivo ao trabalho e empreendedorismo e amputam o sector privado do poder de decidir, livre e individualmente, sobre a forma como o seu rendimento é aplicado.
Apesar disto não subscrevo a petição "Não a mais impostos" promovida pelo Diário Económico, por diversas razões.
Em primeiro lugar, o Memorando de Entendimento já contém um conjunto de medidas de aumento da carga fiscal. Efetivamente no quadro do programa de assistência financeira com as instituilções internacionais o Governo Português comprometeu-se a adotar medidas para 2013 para obter pelo menos mais 725 milhões de euros (cerca de 0,4% do PIB) através do aumento de impostos: i) 175 milhões de euros através da limitação dos benefícios fiscais e deduções em sede de IRS, ii) 150 milhões de euros através do alargamento da base e da redução dos benefícios e deduções em IRC; iii) 150 milhões de euros através do aumento dos impostos especiais sobre o consumo e iv) pelo menos 250 milhões através da reavaliação do património imobiliário.
Em segundo lugar, porque, contrariamente ao que se afirma na petição, não existe qualquer evidência de que "o País atingiu o nível máximo de carga fiscal", conceito associado à designda "curva de Laffer", a qual foi desenvolvida para impostos sobre o rendimento das pessoas singulares como o IRS, apontando os estudos para que essa taxa máxima se situe próxima dos 70% (os estudos tendem a apontar para taxas mais baixas no caso dos impostos sobre o capital, nomeadamente sobre as mais-valias, e sobre as empresas, o que é justificado pela maior capacidade de diferimento da tributação desses rendimentos e pela maior mobilidade internacional).
Por outro lado, mesmo admitindo a renegociação dos objetivos e prazos - o qual depende da sua aceitação das instituições internacionais parecem pouco interessadas em estabelecer o precedente de alterar as metas definidas para 2013 (a revisão do objetivo de 2012 parece inevitável) - o desvio existente implica sustentabilidade das contas públicas exige medidas adicionais.
Ora, a petição não aponta sequer quais as áreas e métodos para a redução da despesa pública, limitando-se a defender que a redução do défice se efetive "através da redução efectiva e sustentada da despesa pública, sem artifícios ou medidas extraordinárias ou temporárias". Ora, "
easier to say than to do" numa área em que como muitas vezes sucede "
o Diabo está nos detalhes".
Finalmente, não se deve ignorar que, no curto prazo, os efeitos recessivos de um corte nas prestações sociais ou na despesa pública tendem a ser superiores ao de um aumento dos impostos e a gerar efeitos perversos em termos de equidade.
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