O IEF é um índice que resume a percepção das famílias brasileiras em relação a um conjunto de questões como (i) a situação econômica nacional; (ii) a condição financeira passada e a expectativa futura;(iii) decisões de consumo;(iv) endividamento e as condições de quitação de dívidas e contas atrasadas; e(v) o mercado de trabalho, especialmente nos quesitos segurança na ocupação e sentimento futuro de melhora profissional. Considerando esse conjunto de variáveis, o Índice de Expectativas das Famílias brasileiras em agosto atingiu 62,75 pontos, o que é um índice considerado como revelador de otimismo em relação à situação sócio econômica do país.
Grupos de famílias
O IEF pode ser apurado segundo região geográfica, escolaridade, faixa salarial, sexo, faixa etária, etnia e segundo aqueles domicílios que participam e aqueles que não participam de programas de transferências de renda do governo federal. Os resultados são interessantes pois põem em xeque algumas verdades consagradas. Há uma certa correlação entre as famílias de maiores faixas de renda e as mais otimistas em relação à situação do Brasil nos próximos 12 meses. Assim, 69,23 % das famílias com renda superior a 10 salários mínimos mostravam-se otimistas, enquanto 59,73 % das famílias com faixa salarial de até 1 salário mínimo encontravam-se na mesma situação. O grupo de faixa de renda menos otimista era o que auferia entre 2 e 4 salários mínimos.
Os melhores resultados para o Índice de Expectativa das Famílias foram obtidos quando os pesquisados eram homens, mais jovens, de faixas de renda mais elevadas e com curso superior incompleto ou curso médio completo, novamente os jovens. As famílias beneficiárias dos programas de transferência mostraram-se também mais otimistas do que aquelas que não recebem benefícios do governo, o que se reflete também no fato de que os grupos de faixa salarial de até 1 salário mínimo serem mais otimistas do que as famílias que auferem entre 1 e 2 salário mínimo.
Regiões
Um dos resultados mais interessantes da pesquisa foi a variação do Índice de Expectativas das Famílias por região. Enquanto 68,14% das famílias do Centro-Oeste estavam otimistas em relação à situação socioeconômica do país nos próximos 12 meses, na região Sudeste esse índice era de 59,09%. O gráfico 1 resume esses resultados, mostrando que as famílias das regiões Centro-Oeste, Nordeste (66,30%) e Norte (66,19%) estavam mais otimistas do que aquelas das regiões mais ricas, como Sudeste (62,12%) e Sul (59,09%).
Fonte: IPEA. Índice de Expectativa das Famílias. Agosto de 2010.
O relatório da pesquisa apresenta dois indicadores que tiveram forte influência na variação dos resultados entre as regiões. Refletindo o momento muito favorável da economia brasileira, 73% das famílias brasileiras informaram que a sua situação financeira melhorou em relação a um ano. Em todas as regiões, o percentual de famílias que informou estar em melhor situação financeira em agosto de 2010, em relação ao mesmo período do ano anterior,foi muito elevado, mas as diferenças regionais são expressivas: 81,75% na região Centro-Oeste, 77,75% na região Nordeste e 80,33% no Norte, frente a 69,41% das famílias no Sudeste e 67,39% na região Sul. (Ver gráfico 2).
Em relação ao mercado de trabalho, os entrevistados nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste também se revelaram mais otimistas do os entrevistados nas regiões Sudeste e Sul. Na região Norte, 46,3% das pessoas entrevistadas informaram que esperavam alcançar melhoria profissional no intervalo de seis meses, a contar da pesquisa, frente a 41,1% na região Centro-Oeste, 36,7% no Nordeste. Na região Sudeste 32,1% dos entrevistados esperavam melhoria profissional e na região Sul, 29.8%. Ver gráfico 2.
Fonte: IPEA. Índice de Expectativa das Famílias. Agosto de 2010.
Com o mercado de trabalho aquecido, 76,7% dos responsáveis pelos domicílios informaram que se sentiam seguros em sua ocupação atual. Nesse indicador, os resultados das regiões Nordeste e Sudeste ficaram abaixo da média brasileira.
A situação financeira da família, a segurança no trabalho e as expectativas em relação à situação financeira são fatores importantes nas decisões de consumo e de endividamento das famílias. No próximo artigo, serão apresentados os resultados da pesquisa do IPEA em relação à expectativa de consumo e a situação de endividamento das famílias brasileiras.
Ricardo Lacerda
Professor do Departamento de Economia da UFS e Assessor Econômico do Governo de Sergipe.
Publicado no Jornalda Cidade em 05 de setembro de 2010