Na pesquisa, a situação do endividamento e a intenção de compra por parte das famílias podem ser apuradas segundo região geográfica, escolaridade, faixa salarial, sexo, faixa etária, etnia e segundo aqueles domicílios que participam e aqueles que não participam de programas de transferências de renda do governo federal. (Ver em http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/IEF/100831_ief1.pdf).
Consumo
A pesquisa do IPEA procurou sondar a disposição das famílias brasileiras em relação à aquisição de bens de consumo duráveis, como os eletrodomésticos. Em agosto, 53,04% das famílias pesquisadas informaram que o momento é bom para a aquisição de bens duráveis, contra 37,32% para quem não é um momento adequado para realizar tais tipos de gastos. Outros 9,54% informaram que não sabiam ou simplesmente não responderam. Ou seja, mais da metade das famílias entendia que o momento é favorável à aquisição destes bens que, em sua maior parte, não são comprados à vista.
Os resultados variaram muito de acordo com as regiões. A maior predisposição para adquirir bens duráveis se verificou entre as famílias nordestinas. Quase duas em cada três famílias (63,85%) residentes na região informaram ser um bom momento para aquisição dos bens. Nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, mais da metade das famílias informaram ser um bom momento. As famílias da região Sul se mostraram mais reticentes; 41,62% informaram ser um bom momento para compra dos bens duráveis.Entre as famílias da região Norte o índice foi de 47,33%.(Ver gráfico 1)
Fonte: IPEA. Índice de Expectativa das Famílias. Agosto de 2010.
Endividamento
A predisposição para adquirir eletrodomésticose outros bens duráveis está fortemente associada à percepção das famílias em relação a sua situação de endividamento. Um fato interessante é que 45,46% das famílias brasileiras informaram não possuir dívidas.
Os grupos com faixas de renda até 2 salários mínimos, nas faixas etárias de 30 a 39 anos, ou de 40 a 49 anos, é que tinham uma maior percepção de que se encontravam muito endividados. Não há uma clara relação entre o grau de escolaridade do responsável e a percepção das famílias que informaram estar muito endividadas. Apenas é possível constatar que uma menor parcela dos grupos nas faixas extremas, sem escolaridade e com nível superior completo ou incompleto, informaram que se encontravam em situação de muito endividamento. Curiosamente, o corte por sexo não revelou percepção muito diferenciada em relação a essa questão, ainda que uma maior proporção das mulheres do que de homens ter revelado a percepção de que estava muito endivididada.
Entre as famílias da região Nordeste, apenas 8,54% consideravam estar muito endividada, frente à média brasileira de 11,08%. As regiões com maiores parcelas das famílias que se precupavam com a situação de muito endividamente eram as regiões Sudeste, Norte e Sul. Na região Norte o quadro parecia mais desfavorável; 12% das familias se diziam muito endividadas e apenas 16% delas não possuíam dívidas. (Ver gráfico 2)
Fonte: IPEA. Índice de Expectativa das Famílias. Agosto de 2010.
Mercados regionais
A primeira medição do IPEA realizada em agosto sobre as expectativas das famílias brasileiras revela um quadro geral de otimismo em relação à situação socioeconômica do Brasil, como foi visto no artigo da semana passada. Cerca de três em cada quatro famílias (73%) informaram que a sua situação financeira se encontrava melhor do que há um ano. No caso do Nordeste, a percepção de que a situação financeira a família havia melhorado nesse período era ainda mais disseminada do que a média brasileira, quatro em cada cinco famílias (80,33%).
A melhoria na situação financeira e a confiança em sua situação no mercado de trabalho têm impacto significativo sobre a evolução futura no mercado de consumo no país, com mais da metade das famílias revelando propensão para adquirir bens de consumo duráveis. As famílias das regiões Nordeste e Centro- Oeste se mostraram especialmente inclinadas em continuar adquirindo esses bens, que trazem conforto e comodidade para os domicílios. As redes de varejo já haviam percebido esse cenário e voltam-se fortemente para atender o crescimento da demanda nessas regiões.
* Professor do Departamento de Economia da UFS e Assessor Econômico do Governo de Sergipe.Publicado no Jornal da Cidade em 12 de setembro.