Receitas (im)possíveis para o défice externo
Economia

Receitas (im)possíveis para o défice externo


Ainda a propósito do défice externo escreve João Pinto e Castro:

Acontece, porém, que o endividamento razoável das famílias pode conduzir a um endividamento irrazoável do país.

E defende que só o desemprego pode corrigir a situação. Não me parece que seja só essa a via de ajustamento. Aqui ficam outras:

1. Compra de activos por parte do exterior - empresas e imóveis passam a
ser detidas por estrangeiros. Sim, é verdade que se assistirá a um défice na
balança de rendimentos por via da transferência de lucros/dividendos para o
exterior. Mas, se essas aquisições aumentarem a produtividade das empresas e se
aumentarem as exportações o défice de mercadorias pode diminuir (Sim, há muitos
se's, pode haver desemprego mas não tanto quanto numa situação de recessão por
restrição de crédito)

2. Investimento Directo Estrangeiro em projectos de produção de
transaccionáveis/ produtos que se exportem. Mesmo efeito do caso anterior, com
a vantagem de serem novos projectos e que geram emprego e não desemprego.Compreende-se o esforço que governos sucessivos têm feito para atrais projectos de produtos "exportáveis". Com dimensão apenas se conseguiu até hoje a Autoeuropa. O Ikea é o mais recente mas sem peso.

3. Aumento da poupança interna - hipótese apenas parcialmente viável face ao peso que já pode ter o serviço da dívida.


É mais fácil ocorrer o primeiro caso - tem estado a acontecer - que o segundo. O investimento de estrangeiros em Portugal tem sido limitado. Mas qualquer um deles seria a via mais rápida de aumentar a produtividade, o único caminho de reduzir estruturalmente o défice externo, já que a qualificação leva tempo e tem resultados incertos.

O caso do desemprego pode ocorrer por restrição de crédito via quantidade ou preço e/ou pela incapacidade de fazer face ao serviço da dívida por parte das empresas.

A recessão em si não resolve o problema estrutural. Já tivémos várias que apenas reduziram o défice temporariamente. Em 2003, por exemplo, houve aumento de poupança, para logo a seguir começar a cair.



loading...

- Défice Externo é Importante?
O défice externo está a atingir uma dimensão que nos faz recuar ao segundo e último plano de estabilização do FMI em 1983. Em 1982 o défice externo atingiu os 11,8% do PIB. Uma consequência de uma política expansionista no segundo choque petrolífero...

- O Problema Económico Português (parte I) - Os Elevados Níveis De Endividamento
Do ponto de vista económico, a economia portuguesa apresenta três grandes problemas que irão condicionar e limitar o crescimento económico nas próximas décadas e a colocam numa situação muito complicada: i) elevados níveis de endividamento quer...

- Tempos Difíceis
A economia portuguesa fechou o ano de 2010 com um défice das administrações públicas de 15,7 mil milhões de euros (9,1% do PIB) e um défice externo, medido pelas necessidades de financiamento face ao exterior, de 14,5 mil milhões de euros (8,4%...

- Ainda Sobre A Evolução Das Exportações
O facto de o nosso défice comercial ascender a cerca de 10% do PIB tem levado a que se tenha tornado relativamente comum sugerir a solução seria um aumento das exportações correspondente a 10 pontos percentuais. Certo ? Não, errado. Por si só...

- A (in)sustentabilidade Do Desequilíbrio Externo Português
Em termos acumulados a posição líquida face ao exterior que, corresponde, em sentido lato, ao nível de endividamento externo face ao exterior, passou de -8% do PIB, em 1995, para -41% em 2000 e -90,6% no 3.º trimestre de 2008, gerando um forte desequilíbrio...



Economia








.