"Com a entrada da China e de outros países emergentes no mercado mundial, o Brasil perde vantagem comparativa em diversos produtos industriais. Somente por preço não há como competir no segmento de manufaturados padronizados. Em produtos intensivos em trabalho porque o custo da mão-de-obra na China é de R$ 1,50 por hora, para uma jornada de 60 horas por semana, e em produtos intensivos em capital porque lá a poupança é 40% do PIB, o dobro da nossa. A concorrência, para ser efetiva, tem de se dar em outro nível (design, marketing, conteúdo tecnológico) ou em produtos intensivos em recursos naturais, onde temos clara vantagem. A concorrência chinesa é predatória? De forma alguma. São diferenças em disponibilidade de fatores de produção que impulsionam boa parte do comércio internacional. Se todo país quisesse 'neutralizá-las' através de tarifas e subsídios, o mundo caminharia para a autarquia e não haveria progresso. À parte os concorrentes domésticos, o fato de a China poder nos vender produtos a custo muito abaixo do nosso, liberando os recursos escassos do país para outras atividades mais produtivas, deveria ser motivo de satisfação. Mas é o contrário que se vê. O protecionismo volta à carga. Sob o pretexto da valorização cambial e com o apoio da atual equipe econômica, algumas empresas estão conseguindo reverter o processo de abertura comercial iniciado há 15 anos. Ao aumentar o nível de proteção, o governo contribui para valorizar ainda mais o câmbio, prejudicando justamente os setores mais eficientes da economia, capazes de exportar. Desenvolvimento ocorre quando os produtivos são premiados e os improdutivos alijados do mercado. Retirar dos primeiros para dar aos últimos é a chave do atraso".