Professor Solow, DSGE e a esquerda pró-concentração de renda no Brasil
Economia

Professor Solow, DSGE e a esquerda pró-concentração de renda no Brasil



Bob Solow é um exemplo de liberal de velha guarda nos Estados Unidos. Em um depoimento recente no Congresso americano, ele castigou os modelos DSGE (Dynamic Stochastic General Equilibrium) – link aqui. Como o depoimento do Professor Solow cabe em apenas três páginas datilografadas, não vou tentar resumí-lo, assim sugiro que leiam vocês mesmos.

Agora, minha opinião sobre a questão.

Primeiro, uma constatação factual: modelos DSGE são extremamente úteis e mesmo instituições que não tinham tradição de usá-los, passaram a usá-los mais intensamente desde o começo da crise. Por quê? Porque modelos de DSGE são “the only game in town” para responder várias perguntas quantitativas relevantes para a política econômica. Todo o debate sobre o estímulo fiscal nos países avançados é baseado em DSGEs. O Federal Reserve usa-os intensivamente, assim como o Banco Central Europeu, o Banco da Inglaterra, as instituições multilaterais, e praticamente todos os bancos centrais que seguem metas de inflação etc.

Segundo, o ponto de Solow é correto. Uma das grandes questões da macroeconomia é o desemprego. Gerações de economistas saindo de Chicago foram educados para acreditar em uma pataquada do Bob Lucas que é a idéia que flutuações macroeconômicas causam pequenos custos de bem-estar. É uma pataquada porque tal resultado é um artefato do modelo de agente representativo. Explico: em modelos com agente representativo, a dor do desemprego é compartilhada por toda a população, e não monopolizada pelos desempregados. É sabido que o fenômeno do desemprego é concentrado em uma fração da população e gera um custo de bem-estar enorme. É completamente diferente o efeito no bem-estar de ter 100% das famílias experimentando desemprego 10% do tempo do que ter 20% das famílias sofrendo com o desemprego 50% do tempo.

Os modelos de DSGE em geral compartilham o agente representativo da análise de Lucas porque tal premissa facilita a análise e faz os modelos tratáveis, sem grandes perdas em termos de capacidade de descrever e prever as flutuações dos agregados macroeconômicos (hiato do produto, desemprego, inflação etc). Entretanto, a hipótese do agente representativo é às vezes inapropriada para análise de bem estar porque minimiza os custos das flutuações econômicas. Segundo o Professor Solow, isso teria consequências funestas para a escolha de prioridades pela profissão. E só posso concordar com ele.

Agora mudando de assunto completamente... É de doer o coração comparar o discurso Professor Solow, que é um expoente da ‘esquerda’ americana com nossa (suposta) ‘esquerda’ freak-show. Enquanto Solow preocupa-se com os custos sociais do desemprego, a quermesse brasileira faz sua missão de vida a defesa de várias políticas públicas visando a concentração de renda no Brasil, que vão desde a advocacia da compressão dos salários reais ao melhor estilo do regime militar à defesa da taxação de salários para subsidiar aventuras de plutocratas via bancos estatais, passando por controles de capitais aparentemente desenhados para não bloquear o carry-trade (não bloquearam), mas sim afastar os investidores de longo prazo na Bolsa (afastaram) (*).

(*) Pelo menos na questão dos controles de capitais dou o benefício da dúvida aos nossos quermesseiros oficiais. Minha análise nassifológica (TM) sugere que é mais provável que erraram por incompetência do que por má intenção.



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