Economia
Previsões para o PIB de 2011 e 2012.
No VALOR ECONÔMICO de hoje, o
comentário de Carlos Langoni sobre o PIB de 2011 e 2012.
A força do mercado interno deve
garantir ao Brasil um crescimento de 3,5% a 4% neste ano e no ano que vem,
acredita o ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni, que vê um quadro de
estagnação nos países desenvolvidos nos próximos anos, mas não de recessão
profunda. Langoni não aposta num cenário externo tão adverso quanto o BC
brasileiro, que trabalha com uma piora muito forte da economia global, a ponto
de ter iniciado um ciclo de corte dos juros mesmo com a inflação acumulada em
12 meses acima do teto da meta, de 6,5%.
"A decisão do BC foi ousada e
arriscada. Eu não teria cortado os juros em agosto. Esperaria até o fim do ano
para ver também se a política fiscal será bem implementada", disse ontem
Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas
(FGV). Ele participou de um painel de discussões sobre risco sistêmico no
Simpósio Econômico Global (GES, na sigla em inglês), na cidade de Kiel, na
Alemanha. Promovido pelo Kiel Institute for the World Economy, o evento, que
termina hoje, tem a FGV como um de seus parceiros.
Para Langoni, o quadro externo com que
o BC trabalha depende de uma desaceleração mais forte da China, o que derrubaria
os preços das commodities, ajudando a controlar a inflação no Brasil, e de uma
crise no sistema bancário, com corte do crédito externo, medida que também
teria um impacto desinflacionário. Langoni, contudo, não acredita num tombo
muito forte das commodities, por considerar possível que a China continue a
crescer na casa de 9%.
O economista tampouco aposta numa
crise bancária de grandes proporções. Depois do que ocorreu em 2008, quando os
EUA deixaram o Lehman Brothers quebrar, nenhum banco central vai cometer um
erro semelhante, afirmou Langoni. O Banco Central Europeu tenderia a agir para
evitar o colapso de bancos da zona do euro, e eventualmente os Tesouros dos
países também atuariam para impedir um problema bancário de grandes proporções.
É por ter esse cenário em mente que
Langoni aposta num default ordenado da Grécia. Para ele, os europeus vão
primeiro ampliar o poder de fogo da Linha de Estabilidade Financeira Europeia
(EFSF, na sigla em inglês), para impedir o contágio para outros países,
garantindo liquidez para títulos da Itália e da Espanha. Isso abre espaço para
um default ordenado da Grécia, que terá de reduzir fortemente o seu
endividamento, afirmou Langoni.
Esse quadro é compatível com um longo
período de baixo crescimento nos países desenvolvidos, acredita ele, algo como
cinco anos ou até mesmo uma década. "Mas não deverá haver uma recessão
profunda", disse ele, o que explica a diferença de sua visão em relação ao
do BC.
Apesar das críticas ao corte dos juros
em agosto, Langoni não avalia que o regime de metas de inflação foi abandonado.
Para ele, se o cenário externo não piorar de fato como o BC espera, ou se o
aperto fiscal prometido pelo governo brasileiro não se concretizar, a
autoridade monetária brasileira interromperá o ciclo de queda dos juros.
Langoni aposta em mais dois cortes de 0,5 ponto percentual, o que levaria a
Selic a 11% no fim do ano. "Não acho que o BC vai cortar os juros de modo
irresponsável. Lula percebeu, e Dilma [Rousseff] logo perceberá, que a
popularidade depende de inflação baixa", afirmou. "Os programas
sociais não teriam a mesma força com taxas de inflação elevadas. Forças
políticas e econômicas vão levar o BC a manter postura conservadora."
Sem apostar numa ruptura no cenário
externo e acreditando na força do mercado de trabalho e no investimento,
Langoni sente-se confortável para projetar um crescimento na casa de 3,5% a 4%
em 2011 e 2012. Ele lembra que, no ano que vem, haverá um reajuste
significativo do salário mínimo, de 14%, o que pode inclusive dificultar a
queda da inflação.
No seminário do GES, Langoni defendeu
o modelo de crescimento brasileiro, baseado em crescimento com distribuição de
renda, algo que, segundo ele, não ocorre na China. Em 2012, o GES ocorrerá no
Brasil, no Rio de Janeiro. A FGV foi convidada pelo Kiel Institute para ser a
anfitriã e organizadora do seminário no país. O diretor-executivo da FGV
Projetos, Cesar Cunha Campos, disse que o GES no Rio deverá ter um pouco mais
de ênfase em mercados emergentes, com mais participantes da América Latina,
China e Índia. O evento deverá ocorrer em outubro ou novembro do ano que vem.
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