Paul Krugman: Economia dos Estados Unidos se recupera, mas o otimismo é cauteloso
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Paul Krugman: Economia dos Estados Unidos se recupera, mas o otimismo é cauteloso


 
Em que estado se encontra a União? Bom, o estado da economia continua terrível. Três anos depois da posse do presidente Barack Obama e dois anos e meio após o fim oficial da recessão, o índice de desemprego nos Estados Unidos continua terrivelmente alto.

Mas há motivos para acreditar que estamos finalmente seguindo a rota (lenta) para tempos melhores. E nós não estaríamos nessa rota se Obama tivesse cedido diante das demandas dos republicanos para que ele cortasse os gastos, ou se o Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) tivesse se dobrado às exigências dos republicanos para que a instituição promovesse um arrocho monetário.


Por que eu estou deixando um pouco de otimismo passar por entre as nuvens escuras da crise? Dados econômicos recentes são um pouco mais positivos, mas nós já presenciamos falsas recuperações anteriormente. O mais importante é que há evidências de que os dois grandes problemas que estão na raiz da crise que enfrentamos – o estouro da bolha imobiliária e a excessiva dívida privada – estão finalmente se tornando menos intensos.

Quanto ao primeiro problema, conforme todos sabem atualmente (vale lembrar que quem apontou o problema enquanto ele ocorria foi duramente criticado), nós tivemos uma monstruosa bolha imobiliária entre 2000 e 2006. Os preços dos imóveis dispararam, e houve sem dúvida um excesso de construção de imóveis. Quando a bolha estourou, a atividade de construção – que vinha sendo o principal elemento propulsor do suposto “Bush Boom” - despencou.

Mas a bolha começou a encolher quase seis anos atrás; os preços dos imóveis retornaram ao patamar de 2003. E, após um prolongado desaquecimento da construção de novas casas, os Estados Unidos dão agora a impressão de enfrentarem um sério déficit de moradias, pelo menos segundo os padrões históricos.

Mas então, por que as pessoas não estão simplesmente comprando imóveis? Porque o estado deprimido em que se encontra a economia faz com que muita gente que estaria normalmente comprando casas não tenha condições de adquiri-las ou esteja muito preocupada com as perspectivas de emprego para correr tal risco.

Mas a economia se encontra deprimida, em grande parte, devido ao superaquecimento do setor imobiliário, o que sugere imediatamente a possibilidade de existência de um círculo virtuoso: uma economia em recuperação provoca uma disparada das aquisições de imóveis, o que gera mais construções, o que por sua vez fortalece ainda mais a economia, e assim sucessivamente. E, quem escrutinar com atenção os dados recentes verá que, ao que parece, há algo de novo surgindo no horizonte: as vendas de imóveis estão aumentando, os pedidos de auxílio-desemprego diminuíram e a confiança das construtoras está em alta.

Além do mais, as chances de que tenhamos desta vez um círculo virtuoso aumentam, já que nós temos feito um progresso significativo na área da dívida.

É claro que não é isso o que ouvimos nos debates públicos, onde todo o foco se concentra no aumento da dívida do governo. Mas quem analisou seriamente os motivos pelos quais nós chegamos a esta situação sabe que a dívida privada, especialmente a dívida da casa própria, foi o verdadeira culpada pela crise: foi a explosão de dívidas referentes à moradia durante o governo Bush que criou as condições para a crise. E a boa notícia é que essa dívida privada tem diminuído em dólares, e sofrido uma redução substancial como percentagem do produto interno bruto desde o final de 2008.

É claro que existem ainda grandes riscos – acima de tudo o perigo de que os problemas econômicos na Europa atrapalhem a nossa recuperação incipiente. E aqui entra uma história contada por um recente relatório do McKinsey Global Institute.

O relatório avalia o progresso quanto ao “desalavancamento”, o processo de redução dos níveis de dívida excessivos. Ele documenta um progresso substancial nos Estados Unidos, e contrasta isso com a falta de progresso na Europa. E embora o relatório não afirme isso explicitamente, é bem claro por que a Europa está apresentando um desempenho pior do que o nosso: o motivo disso é o fato de os governantes europeus estarem se equivocando quanto às coisas das quais deveriam ter medo.

O Banco Central Europeu está particularmente preocupado com a inflação – tendo até aumentado as taxas de juros em 2011, apenas para reverter essa rota no final do ano – em vez de se preocupar com a forma de sustentar uma recuperação econômica. E a austeridade fiscal, que deveria limitar o aumento da dívida governamental, deprimiu a economia, impossibilitando as urgentemente necessárias reduções da dívida privada. O resultado final foi que, apesar de todos os seus sermões sobre os males decorrentes da tomada de empréstimos, os europeus não estão fazendo progresso algum no que se refere ao endividamento excessivo – mas nós estamos.

Voltando à situação dos Estados Unidos: o meu otimismo cauteloso não deve ser entendido como uma afirmação de que tudo vai às mil maravilhas. Nós já sofremos um dano enorme e desnecessário devido a uma resposta inadequada à crise. Os Estados Unidos deixaram de proporcionar um alívio significativo para as hipotecas, algo que teria nos colocado muito mais rapidamente em um patamar de dívida baixa. E, ainda que o meu desejado círculo virtuoso esteja em andamento, serão necessários anos até que nós alcancemos algo que lembre um patamar de emprego pleno.

Mas a situação poderia ter sido pior. Ela teria sido mais grave se nós tivéssemos adotado as políticas exigidas pelos oponentes de Obama. Isso porque, conforme eu afirmei no início, os republicanos têm exigido que o Federal Reserve deixe de tentar reduzir as taxas de juros e que os gastos federais sejam cortados imediatamente – o que equivale a exigir que nós imitemos o fracasso da Europa.

E se a eleição deste ano colocar a ideologia errada no poder, a incipiente recuperação econômica dos Estados Unidos poderá ser obliterada.
Tradutor: UOL



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