Papai chegou!
Economia

Papai chegou!



Moisés Naím, hoje na FOLHA DE S. PAULO e uma análise irônica da situação internacional. 

Uma vez no poder, os populistas precisam manipular os recursos do Estado a seu bel-prazer
Papá -Papai- é Hipólito Mejía, e ele quer ser presidente da República Dominicana. "Papai chegou" é seu slogan de campanha. E sua promessa aos eleitores é que Papai lhes dará o que eles não têm e nunca tiveram. As eleições são em maio, e Mejía, que já foi presidente (2000-2004), tem a possibilidade de ser reeleito, apesar de, durante seu mandato, o país ter sofrido uma das piores crises econômicas. Nada disso interessa muito ao resto do mundo. Mas a campanha de Mejía e seu slogan refletem tendências mundiais.

*O populismo. Buscar votos com presentes e prometer coisas que sabem que não poderão cumprir são práticas antigas. Uma vez no poder, os populistas precisam manipular os recursos do Estado a seu bel-prazer e por isso não toleram freios nem contrapesos e depreciam legisladores, juízes, imprensa e opositores. Vale notar que, apesar de o populismo florescer nos países pobres, também se dá bem em democracias avançadas. Exemplo: o discurso de Sarah Palin ou dos pré-candidatos republicanos dos EUA. Os casos recentes da Hungria, da África do Sul e da Tailândia exemplificam o quão global esse fenômeno se tornou.

*O machismo. Hipólito Mejía é "Papá" e Silvio Berlusconi era "Papi", e suas sessões de bunga-bunga já são legendárias. Vladimir Putin cultiva a imagem do macho alfa, que, apesar dos protestos contra ele, está disposto a salvar o país nas eleições de 4 de março. As fotos de Putin como caçador de ursos, judoca, motociclista, piloto de caça ou com o peito nu já foram mais exibidas que a múmia de Lênin.

Hugo Chávez não fica atrás.

Uma vez disse que "faltava homem" para Condoleezza Rice e pediu que um de seus ministros se oferecesse para "fazer um favor" a ela.

*A reeleição. O poder vicia, e a democracia é um antídoto para evitar que os governantes se eternizem. Mesmo assim, alguns presidentes democraticamente eleitos se dispõem a tudo para não perder o poder. A paixão pela reeleição de Nicolas Sarkozy e Vladimir Putin é universal. Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa modificaram as regras para poder continuar no poder. Na Europa, na África e na Ásia há cada vez mais exemplos disso.

* Reelegendo os maus. Daniel Ortega acaba de ser eleito pela terceira vez, mesmo que, para consegui-lo, não tenha hesitado em violar a Constituição. Em sua posse, Ortega foi apadrinhado por Hugo Chávez e pelo iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Nos três casos, as estatísticas dos organismos internacionais mostram que, durante seus mandatos, seus países regrediram. E os três foram reeleitos. Berlusconi também. De novo, não é um fenômeno latino-americano.

* Mamãe chegou! Uma mulher pode frustrar os planos de Mejía, que liderava as pesquisas. Isso até a atual primeira-dama, Margarita Cedeño, decidir lançar-se como candidata à vice-presidência. Agora Danilo Medina, candidato do governo e rival de Mejía, passou ao primeiro lugar, graças ao fato de que 25% dos que dizem que vão votar nele afirmarem que o farão "por Margarita". E essa é outra tendência mundial: há cada vez mais mulheres no poder. 



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