Economia
Oscar - O ano da nostalgia - 2012.
Li no Valor Econômico e como amanhã tem Oscar 2012, vale a leitura neste econômico sábado.
A nostalgia é a nova moda, a julgar pelos
concorrentes ao prêmio de melhor filme do Oscar 2012, cuja cerimônia de entrega
acontece no próximo domingo, em Hollywood. Dos nove indicados, seis exaltam o
passado. "A Invenção de Hugo Cabret" e "O Artista", os
favoritos na categoria, por exemplo, prestam uma clara homenagem à infância e à
magia do cinema. Mas seria essa tendência escapista do cinema um reflexo de
alienação política?
Para Annette Insdorf, professora de cinema da
Universidade Columbia, o Oscar 2012 não reflete a situação corrente dos Estados
Unidos, ainda convalescentes de uma crise econômica iniciada em 2008. "A
sugestão de uma volta ao passado tem força. O saudosismo não é só em relação ao
cinema mudo", diz Insdorf ao Valor. "'Meia-Noite em Paris' trata da
atmosfera intelectual da Paris dos anos 1920. 'Cavalo de Guerra' é
descaradamente antiquado. Mesmo 'A Árvore da Vida' tem um ar nostálgico por
conta do enredo calcado em fatos passados, assim como 'Histórias Cruzadas', com
a sua exploração dos conflitos raciais nos Estados Unidos de 50 anos
atrás."
Nos Estados Unidos, historicamente, o cinema
floresceu em épocas de crise. "Os últimos anos têm sido difíceis no país
e, tal como a Academia, os espectadores veem o cinema como uma possibilidade de
escape e não de reflexão sobre a atualidade", afirma Betsy Sharkey,
crítica de cinema do jornal "Los Angeles Times".
.
Para ela, isso explica o fato de filmes com
temas políticos, sociais e econômicos, como "Margin Call - O Dia Antes do
Fim", que acompanha o comportamento de funcionários de um banco de
investimentos às vésperas de uma crise financeira, e "Tudo pelo
Poder", sobre políticos desonestos, estarem fora da categoria principal.
"Existe uma rejeição aos temas pessimistas, Neste ano a Academia parece
disposta a contemplar os filmes de temática mais esperançosa."
Produções que têm recebido prêmios mundo
afora e elogios da crítica, como "Melancolia", que aborda a depressão
e o fim do mundo, "Shame", sobre um viciado em sexo, e
"Precisamos Falar sobre o Kevin", que mostra o massacre em uma
escola, foram completamente ignorados no Oscar deste ano.
"Existe uma saudade das histórias bem
contadas. 'O Artista', por exemplo, é uma história clássica de amor, com um
trilha sonora fantástica, que poderia ser narrada em qualquer época, apesar do
seu contexto específico", diz a brasileira Paoula Abou-Jaoude, integrante
da The Hollywood Foreign Press Association, responsável pela premiação do Globo
de Ouro.
Com o sucesso inesperado de "O
Artista", a indústria do entretenimento passou a explorar o filão. Até o
fim deste ano, vai estrear na Broadway um musical sobre a vida de Charlie
Chaplin (1889-1977). "Silent Life", filme sobre Rodolfo Valentino
(1895-1926), ator do cinema mudo que morreu precocemente, está em fase de
pós-produção. O longa-metragem tem Isabella Rossellini no elenco.
A alienação do Oscar deste ano é uma posição
contrária à do Festival Sundance, ocorrido em Utah entre 19 e 29 de janeiro.
Segundo reportagem de Brooks Barnes para o jornal "The New York
Times", o evento, de perfil mais alternativo, mostrou como a tecnologia
digital ajuda os cineastas a capturar "o momento". Os filmes,
sobretudo os documentários, exibiram "o sonho americano transformado em
pesadelo".
Não por acaso, o júri elegeu como melhor
filme "Beasts of the Southern Wild", de Benh Zeitlin, o qual aborda,
em essência, o descaso histórico com o Sul dos Estados Unidos. O melhor documentário
foi "The House I Live In", de Eugene Jarecki, uma análise sobre a
política do governo norte-americano de combate às drogas durante as últimas
quatro décadas.
Antes os filmes tinham "um atraso de
três a cinco anos para tratar da realidade do país", escreveu Barnes. Foi
assim, por exemplo, com os ataques ao World Trade Center em 11 de setembro de
2001 ("Tão Longe e Tão Perto", que aborda o tema, é um dos
concorrentes ao Oscar de melhor filme; leia texto nesta página). Por obra da
tecnologia digital, esse intervalo foi superado. Programas de edição permitem
que um filme seja finalizado em até quatro meses e sem tantos custos. Agora, os
cineastas trabalham em casa e com rapidez.
O Oscar mostra, porém, que o uso da
tecnologia digital pode ter outro tipo de influência. "Ela também serve
para arrecadar", diz Paoula Abou-Jaoude. "Hoje o espectador pode
escolher entre ver uma imagem bárbara de 3D em uma sala IMAX ou assistir a um
filme em casa, o que é mais barato." Existe uma mudança no modo como se veem
e distribuem as obras cinematográficas. Os estúdios estão mais atentos à
sedução tecnológica que pode tirar as pessoas do conforto do lar.
"Filmes via internet são o futuro",
diz Paoula. O serviço, oferecido por Netflix e Amazon, por exemplo, é um fenômeno
que perturba os grandes estúdios de Hollywood. Ele representa um obstáculo ao
lucro outrora obtido pelos estúdios com a venda de DVDs.
Para se ter uma ideia, por US$ 3,99, o
espectador compra na Amazon e vê pelo computador filmes como "Meia-Noite em
Paris", "Histórias Cruzadas" e "O Homem que Mudou o
Jogo", todos indicados ao Oscar de melhor filme. O preço médio de um
ingresso de cinema em Nova York - US$ 12,50 - quase paga a mensalidade de um
dos pacotes do Netflix. Por US$ 15,98, um assinante tem direito à entrega de
DVDs pelo correio e a uma quantidade imensa de longas-metragens disponíveis
para exibição via internet. O preço cai pela metade (US$ 7,99) se o pacote
oferecer apenas filmes on-line.
Segundo a empresa de telecomunicações
AT&T, o Netflix, tendo mais de 24 milhões de assinantes, chega a ser o
responsável por cerca de 30% do fluxo de dados gerado na rede virtual dos
Estados Unidos e Canadá. "Cada vez mais o controle se transfere dos
estúdios para as mãos da audiência", diz Betsy Sharkey, do "Los
Angeles Times".
A possibilidade de exibir a sua obra pela
internet fez com que os cineastas não ficassem escravos dos altos custos de
distribuição. "De 5 a 7 milhões de pessoas podem hoje assistir a um filme
que talvez nunca chegasse às salas de cinema", diz Paoula. A guerra atual
se trava entre a tela grande e a tela do computador. A nostalgia vem de mais um
momento de transição na história cinematográfica. Para Sharkey,
"pertencemos a uma cultura da demanda e os filmes acabam seguindo essa tendência."
Se existe limite para o poder da imaginação, ele é estabelecido pelo bolso dos
espectadores.
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