O que é o pós-keynesianismo?
Economia

O que é o pós-keynesianismo?


Um dos leitores desse blog pediu-me para definir pós-keynesianismo.


Vou explicar como nenhum pós-keynesiano poderia.


Em sua essência, pós-keynesiano é um economista que não desenvolveu as capacidades cognitivas ou analíticas para raciocinar em equilíbrio geral.


Por exemplo, escreve o Professor Marco Resende da UFMG:

“Embora esteja disseminada na literatura econômica do maistream e nos meios de
comunicação a idéia de que a poupança é um pré-requisito para o
investimento, este argumento não é consensual na literatura.”


Somente um pós-keynesiano engajaria nessa discussão sobre quem vem primeiro, o investimento ou a poupança. Este diálogo não passa de uma manifestação de um vazio cognitivo onde deveria haver um feixe de neurônios gritando: “Tal pergunta não faz sentido, afinal investimento e poupança são determinados simultaneamente!”


O investimento e a poupança, assim como o desemprego, a taxa de câmbio real, o nível de preços, o nível de atividade econômica, o balanço em conta corrente, entre outras, são variáveis endógenas, isto é, são determinadas simultaneamente dentro do sistema econômico (em equilíbrio geral). Quem é incapaz de entender este conceito, não é um economista de verdade e tem mais que tirar carteirinha da AKB...


Em um sistema macroeconômico, além dessas variáveis endógenas, existem também variáveis de política, como a taxa nominal de juros (SELIC), as alíquotas dos impostos, as reservas compulsórias dos bancos, a estratégia financeira do setor público, o salário mínimo nominal, a taxa de câmbio em que o governo compra ou vende moeda estrangeira quando o câmbio é fixo, a alíquota do IOF etc; e variáveis exógenas, como o preço do frete marinho, a política fiscal chinesa, os choques climáticos como o El Niño e todas as ações que podemos acreditar que não sejam influenciadas pelo que ocorre no Brasil (o que vai fazer o Bank of England amanhã?).


Faz sentido se perguntar o que acontece com a poupança se “o câmbio” se depreciar? Não! É uma pergunta mal colocada, pois não tem resposta independente do contexto.

Vejamos... Quando acontece um aumento no preço de nossas exportações, vários mecanismos tendem a causar uma apreciação da taxa real de câmbio, e no caso dos agentes econômicos considerarem a melhoria nos termos de troca como temporária, também um aumento em nossa poupança. Por outro lado, se o nosso governo aumentar suas compras de bens não-negociáveis, uma apreciação da taxa real de câmbio seria esperada (segundo ampla literatura empírica), assim como uma deterioração da poupança nacional (porque equivalência ricardiana é um conto de carochinha). Resumindo, a correlação diferente entre a poupança e a taxa real de câmbio é dependente do contexto.


Esta falta de noção dos pós-keynesianos tem conseqüências para o mundo real. Do vácuo cognitivo na cabecinha dos membros da AKB, idéias equivocadas brotam como fungos no pasto depois da chuva. Afinal se nós podemos afirmar que variável endógena ‘bolinha’ não é realmente endógena, então nosso horizonte para alterar a realidade se torna mais amplo.

Por exemplo, a questão do câmbio. É comum que nossos pós-keynesianos enunciem que um câmbio mais depreciado faria maravilhas para a economia (aumentaria o investimento, a poupança, o crescimento etc). Mas de onde vem o câmbio depreciado? Daí temos que discutir política econômica. Existem várias alavancas que podem ser puxadas para atingir o objetivo do câmbio depreciado. Algumas são altamente malignas para o bem-estar da população. Outras podem depreciar o câmbio real, ao mesmo tempo que destroem o incentivo para investir.


Como o Keynes de bobo não tinha nada, ele criou o conceito de animal spirits para amparar a idéia de investimento autônomo (isto é, os capitalistas investem quando lhes dá na telha) e assim justificar que o sistema não tenha feedback loops ou determinação simultânea. Nossos pós-keynesianos tomam literalmente um truque de retorica de Keynes e tornam-no uma licença para não processar feedback loops.

Assim, na desvirtuação tupiniquim, eles organizam na cabecinha um sistema recursivo em que o investimento vem antes e determina a poupança. É mais fácil de explicar e provavelmente é tudo que eles conseguem entender mesmo. Mais ainda, eles querem argumentar que podem determinar a taxa de câmbio real e assim afetar a decisão de investimento (que afinal não é determinado apenas por animal spirits!), mas para isso faz-se necessário que a taxa de câmbio não seja afetada pela taxa de poupança, pois do contrário haveria um feedback loop e as cabecinhas não seriam capazes de processar ou poderiam chegar a conclusoes não do gosto deles... Então faz-se necessario argumentar ad nauseam sobre a irrelevância da decisão de poupança, chegando alguns ao extremo da boçalidade de escrever que a poupança é um resíduo da decisão de consumo, portanto irrelevante (a decisão de consumo e poupança são a mesma decisão).


Voltando ao ponto principal e resumindo:




loading...

- Poupança E Investimento
Leia a apresentação. (login do Gmail) 1. Justifique porque o conteúdo poupança foi abordado conjuntamente com o investimento. 2. Refira o efeito da facilitação do crédito nos anos 90, sobre a taxa de poupança da sociedade portuguesa. 3. Identifique...

- Valorização Da Taxa De Câmbio - A Doença Brasileira
Porque a taxa de câmbio tende à valorização no Brasil, de acordo com Samuel Pessoa, em matéria publicada no Valor Economico: "O nível do câmbio está muito associado ao nível de poupança do país. Países que poupam pouco, como o Brasil (no primeiro...

- Anais Da Idiocracia, Versão Anpec 2010
Quando eu folheio o programa da ANPEC desse ano, tenho a sensação de estar acordando no Groundhog Day em Punxsutawney, Pennsylvania. Ano após ano, as mesmas figuras tristes apresentam os mesmos papers, pa-ta-ti pa-ta-tá... Nenhuma surpresa. Os professores...

- A Estratégia Da Boçalidade, Via Professor Oreiro
Aparentemente, eu não considerei a hipótese que a defesa do Professor Oreiro seria fingir-se de boçal. Vejamos alguns trechos: “Eu não imaginava que existem autores ortodoxos (um auto-intitulado “tio O”) que acreditam que para desvalorizar a...

- Valorização Da Taxa De Câmbio - A Doença Brasileira
Porque a taxa de câmbio tende à valorização no Brasil, de acordo com Samuel Pessoa, em matéria publicada no Valor Economico: "O nível do câmbio está muito associado ao nível de poupança do país. Países que poupam pouco, como o Brasil (no primeiro...



Economia








.