O que causou os ciclos de crescimento nos últimos vinte anos
Economia

O que causou os ciclos de crescimento nos últimos vinte anos


Ricardo Lacerda

A taxa de crescimento econômico dos países e regiões, em uma perspectiva de longo prazo, é determinada pelo ritmo do aumento da quantidade de recursos que são utilizados no processo de geração de riqueza (capital, trabalho e recursos naturais) e a tecnologia empregada que vai determinar a maior ou menor eficiência na utilização de tais recursos. Cada ciclo de crescimento resulta de uma combinação de aumento na utilização dos recursos e de variação na eficiência com que eles são empregados.
                               
O crescimento ao longo do tempo da quantidade de recursos produtivos disponíveis é chamado de processo de acumulação, quando a sociedade acumula recursos produtivos que poderão ser utilizados na geração de riqueza.

O grande debate sobre  as causas do crescimento econômico se dá em torno de investigar as forças que promovem o aumento da disponibilidade dos recursos produtivos e do uso de tais recursos, que pode ser pleno ou não, e o que provoca a melhoria na produtividade (eficiência) dos fatores de produção. 

Os ciclos recentes

A contar da implantação do Plano Real, em julho de 1994, a economia brasileira conheceu dois períodos relativamente mais extensos de crescimento do produto interno a taxas mais robustas. O primeiro, iniciado ainda em 1993 e se estendeu até 1995, foi muito favorecido pela explosão de consumo que se seguiu à implantação do plano de estabilização.

O segundo ciclo de crescimento, de fôlego bem mais acentuado e com taxas mais elevadas, se estendeu do início de 2004 até meados de 2011, com duas desacelerações expressivas, quando são consideradas as taxas de crescimento acumulado em quatro trimestres: uma de duração mais curta, entre o final de 2005 e o início de 2006, e outra de maior extensão e mais aguda, entre o final de 2008 e ao longo de 2009, sob impacto da crise financeira internacional (ver Gráfico 1).    

Fonte: IBGE. Contas Nacionais Trimestrais.

As forças do crescimento

O primeiro ciclo de crescimento, 1993-1995, foi impulsionado no primeiro momento pela expansão das exportações, até a implantação do Plano Real, e, em seguida, pela expansão do consumo das famílias. A desaceleração que marcou o fim do ciclo de crescimento, a partir do último trimestre de 1995, foi causada pela rápida deterioração do comércio exterior do país, com a perda de ritmo de expansão e depois queda das exportações de bens e serviços e a explosão nas importações. A piora abrupta do comércio exterior contaminou a confiança em relação a sustentabilidade do ciclo de crescimento, impactando as demais variáveis da demanda, notadamente os gastos das famílias e os investimentos.

Mas, na investigação das causas de um ciclo de crescimento, não é suficiente mostrar as evoluções das variáveis de dispêndio que fizeram a economia se expandir e depois declinar. É necessário explicar quais foram os fatores que as moveram para cima ou para baixo: a mudança do cenário internacional? um choque de oferta derivado de uma estiagem, do racionamento de energia ou a mudança de patamar do preço do petróleo? ou, no caso desse ciclo expansivo, a manutenção da paridade de câmbio em patamar insustentável, favorecendo as importações e prejudicando as exportações.

O segundo ciclo

O segundo ciclo de crescimento, entre 2004 e o inicio de 2011, foi impulsionado nas primeiras etapas por forças que se moviam desde 2002, quando o ataque especulativo  à economia brasileira promoveu intensa desvalorização cambial, alterando os preços relativos internos frente aos externos o que, se por um lado, fez deprimir o consumo, por outro, alavancou nossas exportações.  

O crescimento das exportações foi seguido, a partir de 2004, pelo forte incremento do consumo das famílias, acompanhado, com maior ou menor desfasagem temporal, pela expansão dos gastos públicos e pelo aumento dos investimentos (FBCF). 

A primeira desaceleração desse longo ciclo de crescimento, ao final de 2005, deveu-se à perda do ímpeto de expansão em todas as variáveis internas: consumo das famílias, gastos de governo e investimentos.  A retomada da aceleração do crescimento ao longo do ano de 2006 foi claramente determinada pela expansão do consumo das famílias, com rebates extremamente intensos sobre os gastos do governo e sobre os investimentos voltados para o atendimento do mercado interno em expansão.

A força dessas variáveis internas compensou, com larga vantagem, os efeitos negativos da rápida desaceleração do crescimento do saldo das exportações de bens e serviços ao exterior. Esses movimentos podem ser acompanhados pelo exame do Gráfico 2, que apresenta a contribuição de cada componente, medida em milhões de reais a preços constantes de 1995, na variação absoluta do PIB em doze meses.

Saltando para o período mais recente, pode-se observar que o fator de maior peso na explicação do baixo crescimento da economia brasileira desde 2011 foi a rápida deterioração do saldo de exportação e importação de bens e serviços, que findou por contaminar as demais variáveis.

Quais as causas que explicam os movimentos para baixo dessas variáveis no período mais recente. Os economistas não se entendem: a piora do cenário internacional? a manutenção da paridade de câmbio em patamar insustentável, favorecendo as importações e prejudicando as exportações? a escassez de poupança interna que limita o crescimento do PIB potencial? o excesso de intervenção estatal? o esgotamento do mercado de trabalho? todas respostas anteriores?





Fonte: IBGE. Contas Nacionais Trimestrais. Valores encadeados a preços de 1995.

Publicado no Jornal da Cidade em 06/07/2014




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