Economia
O PIB do 1º trimestre e a retomada dos investimentos
Ricardo Lacerda*
O IEDI é o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, uma instituição dedicada à análise e à elaboração de propostas para o desenvolvimento industrial do País. (www.iedi.org.br). Em sua carta de 11 de junho, o IEDI destacou que “o ponto mais positivo da retomada em curso é, sem dúvida, a expansão da FBCF”. A FBCF é a sigla para Formação Bruta de Capital Fixo, os investimentos em máquina, equipamentos e edificações realizados tanto pelo setor privado quanto pelo governo. A evolução favorável dos investimentos é fundamental para que o país tenha um crescimento sustentado, ampliando a capacidade produtiva existente de forma a atender a expansão que estamos vivenciando no mercado consumidor.
No presente artigo se examina como os investimentos evoluíram nos últimos anos, destacando o seu papel no ciclo expansivo que a economia brasileira vem conhecendo desde o final do ano de 2003 e o impacto que sofreu no momento mais crítico da crise financeira internacional.
Sob a ótica da despesa, o item mais importante na formação do PIB do Brasil é o consumo das famílias que respondeu, em 2009, por 62,8 % de todos os gastos da economia. O consumo da administração pública somou 20,8 % e os investimentos em capital fixo representaram 16,7% do total. Esses números são importantes e ajudam a entender como o estímulo ao consumo durante o auge da crise de confiança no final de 2008 foi a decisão mais acertada para impedir que a economia naufragasse. Em 2007, antes da crise, o consumo das famílias respondeu por 59,9% dos dispêndios.
O CicloO atual ciclo de expansão da economia brasileira teve inicio ainda no 3º trimestre de 2003. O gráfico 1 apresenta a evolução trimestral do PIB pela ótica das despesas desde então até o 1º trimestre de 2010, na serie livre de efeitos sazonais.
Nesse período, o consumo da família cresceu 43%. O consumo da administração pública, 24%. Os investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo- FBCF aumentaram 77% e o PIB a preço de mercado, 35%. Ou seja, o consumo da família e a FBCF cresceram mais do que o PIB do período, enquanto o consumo do governo evoluiu abaixo. O gráfico mostra também que as exportações de bens e serviços, que vinham contribuindo significativamente para o crescimento do PIB até o 4º trimestre de 200, reduziram sua contribuição a partir desse momento, muito em função da valorização da nossa moeda e, em menor parte, em função do redirecionamento da produção para o mercado interno. Esses mesmos fatores, por outro lado, têm provocado uma forte aceleração nas importações de bens e serviços que, no período, cresceram 129%, na série livre de efeitos sazonais.
No momento mais crítico da crise financeira, o último trimestre de 2008 e o primeiro de 2009, marcado pela forte instabilidade e pela crise de confiança, as empresas paralisaram os investimentos e reduziram parcela de suas compras. Com isso, a FBCF e as importações tiveram recuo acentuado. No 4º trimestre de 2008, quando o PIB recuou 3,3%, os investimentos caíram em 9,7%, as importações 6,8% e as exportações, 3,3%. No primeiro trimestre de 2009, os investimentos, as exportações e as importações continuaram despencando, enquanto o consumo das famílias se estabilizou e o governo ampliou fortemente seus gastos, em 4,5%, com as políticas anticíclicas. Foram essas últimas variáveis que impediram que a economia mergulhasse na crise e que propiciaram um rápido processo de retomada do crescimento.
O investimentoNo 1º trimestre de 2010, em que a economia cresceu 2,7% em relação ao período anterior e 9% na comparação com o 1º trimestre de 2009, os investimentos representaram 18% do PIB. Não é ainda um resultado fantástico, mas indica a recuperação da confiança das empresas no futuro da economia brasileira. O gráfico 2 apresenta a participação dos investimentos (FBCF) nos PIBs trimestrais, desde o início do ciclo expansivo no segundo semestre de 2003.
Até o final de 2006, a participação dos investimentos no PIB oscilou em torno de uma taxa de 16%, considerada baixa para assegurar um crescimento sustentado da economia em torno de 5%. A partir do inicio de 2007, todavia, a participação dos investimentos no PIB se tornou crescente, mudando para um patamar de 18%, tendo atingido, mesmo, imediatamente antes da crise, 20,1%. O gráfico 2 mostra também que, desde o segundo semestre de 2009, os investimentos reiniciaram sua trajetória de crescimento enquanto parcela do PIB, alcançando a já citada participação de 18% no 1º trimestre de 2010.
Os dados parecem mostrar que, impulsionados pelo crescimento do mercado interno, os investimentos estão voltando com força na economia brasileira. Não vai ser tão difícil retornar a participação de 20%, o que habilita um crescimento sustentável de 5% do PIB. A dificuldade maior, mostram os dados, tem sido o comportamento do comercio exterior.
*Professor do Departamento de Economia da UFS
**Publicado no Jornal da Cidade de 20 de junho de 2010
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