Águas ultraprofundas
Além da qualidade da descoberta, chamou a atenção o fato de que o bloco exploratório anunciado, o SEAL-M-426, situado a 58 quilômetros da costa de Sergipe, possui lâmina d’água de 2,34 mil metros, portanto, maior do que a do campo de Tupi, na Bacia de Santos, que gira em torno dos 2,1 mil metros. Piranema, nosso único campo produtor em águas profundas, apresenta lâmina d’água de 800 metros.
Ainda que o dimensionamento das reservas dependa de pesquisas adicionais, os dirigentes da empresa asseveram que as informações já obtidas atestam a descoberta de uma nova província petrolífera na região, a primeira em águas ultraprofundas.
Petróleo em Sergipe
Desde a entrada em operação, em 1963, do campo terrestre de Carmópolis, a exploração do petróleo tem sido um dos principais vetores de desenvolvimento da economia sergipana. Os investimentos na cadeia produtiva de petróleo e gás têm se constituído, nos últimos 40 anos, em um dos fatores de diferenciação da economia sergipana em relação à média dos estados nordestinos e são um dos responsáveis (ao lado da maior taxa de urbanização, da menor faixa de semiárido e da menor concentração relativa de terra), por Sergipe apresentar indicadores sociais e econômicos significativamente superiores à maioria dos estados da região.
Fonte. Petrobras e Agência Nacional de Petróleo.
A evolução da produção do petróleo em Sergipe nos anos setenta foi extremamente favorável, com a descoberta de novas reservas na plataforma continental, impulsionada pelo inicio da exploração do campo de Guaricema em 1968.
Nesse ciclo expansivo, a produção alcançou seu ponto de máximo em 1984, a partir do qual entrou em preocupante trajetória declinante, fazendo com que a produção de 1997 se situasse cerca de 1/3 abaixo do resultado daquele ano. Entre meados dos anos oitenta até 2002,com algumas oscilações, a exploração de petróleo em Sergipe se manteve rebaixada. (Ver gráfico 1).
Com isso, ainda que permanecesse como uma importante atividade econômica, responsável por parcela significativa da renda gerada no Estado, o petróleo perdeu, durante esse período, seu poder impulsionador do crescimento da economia sergipana.
Novo ciclo em 2003
Somente em 2003, em parte por conta da recuperação dos preços internacionais do petróleo, que viabilizou a retomada da exploração de campos maduros e a realização de investimentos em novos campos, em parte em função de mudança de estratégia por parte da empresa em direção à retomada de um papel mais atuante no desenvolvimento brasileiro, a produção de petróleo em Sergipe iniciou um novo ciclo de expansão. (Ver gráfico 1)
Peso no PIB
Em 2007, último ano com dados disponíveis para as contas regionais, a indústria extrativa mineral, que abrange a atividade de exploração de petróleo e gás, respondia por 6,22 % do PIB sergipano. O peso da cadeia de petróleo e gás ultrapassa muito essa porcentagem, considerando-se os efeitos multiplicadores da massa de salário paga e dos contratos de fornecimentos de bens e serviços e dos tributos e royalties.
A forte presença dessa atividade em Sergipe faz com que a participação do setor extrativo mineral no PIB seja a quinta maior dentre as unidades da federação, abaixo apenas do peso que apresenta no Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Pará (esta por conta da extração do minério de ferro). A participação dessa atividade na economia sergipana é 2,6 vezes superior ao da média do Brasil. (Ver gráfico 2).
Fonte. IBGE: Contas regionais.
A retomada atual do crescimento da produção petrolífera em Sergipe se deveu especialmente a um novo ciclo de exploração petrolífera inaugurado com a exploração do campo de Piranema, em águas profundas, secundada pela retomada dos investimentos nos campos maduros. A descoberta da nova fronteira de exploração em águas profundas, anunciada essa semana, abre um novo capítulo da história do petróleo em Sergipe e confirma o papel determinante que a atividade deverá continuar a representar na economia estadual.
Publicado no Jornal da Cidade em 31/10/2010