Economia
O mundo rosa de Tombini.
Recebi do grupo de Economia Política o editorial do ESTADÃO de 25.07.2012, comentando sobre o mundo rosa de Tombini.
Espalhar otimismo e alegria
é a nova função do Banco Central (BC) do Brasil. Talvez seja essa a maior
inovação introduzida por seu atual presidente, Alexandre
Tombini, convertido em propagandista da política econômica. Segundo ele, a economia crescerá mais de 4% no
próximo ano, a inflação continuará controlada e as famílias terão recursos para
ampliar seu consumo, graças à expansão do emprego e da renda. Não se
trata, nesse discurso, apenas de alimentar e administrar expectativas, um papel
normalmente exercido pela autoridade monetária. O presidente do BC é hoje um
funcionário plenamente integrado na equipe ministerial, como era em tempos mais
remotos, quando a gestão da moeda era subordinada, sem reservas, à orientação
central da política econômica.
O presidente do BC está certo, provavelmente, quando anuncia uma
reativação da economia brasileira no segundo semestre e um retorno, em 2013, a
um crescimento em torno de 4,5%. A economia continua, de fato, criando empregos
e a renda salarial cresceu mais uma vez no primeiro semestre. Tudo isso
favorece o consumo, único fator de sustentação da economia neste ano. Mas há um evidente irrealismo no cenário cor-de-rosa
apresentado por Tombini.
Os estímulos de crédito e o aumento de renda ainda observados
neste ano podem favorecer a reativação econômica no segundo semestre, depois de
meses de estagnação. Falta saber se a
economia terá fôlego para um crescimento mais que efêmero, ou mesmo para uma
expansão em ritmo superior a 4% nos anos seguintes. A criação de
empregos formais em junho - 120,4 mil - foi 53% menor que a de um ano antes. No
primeiro semestre houve 1 milhão de contratações com carteira assinada. Quase
metade - 469,7 mil - foi no setor de serviços. A expansão dependeu
principalmente da geração de empregos de qualidade inferior ao do setor
manufatureiro.
A deterioração do quadro estendeu-se, portanto, pelo menos até o
fim do primeiro semestre. Isso foi confirmado também pela nova sondagem da
Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada ontem. Segundo o relatório,
a demanda ficou mais fraca, as margens de
lucro foram insatisfatórias e os entrevistados apontaram uma situação
financeira ruim. O acesso ao
crédito permanece difícil, afirmam os autores do levantamento. De
acordo com as informações coletadas, a produção industrial diminuiu pelo quarto
mês consecutivo e os estoques se elevaram em cinco dos primeiros seis meses do
ano.
"A estratégia de
crescimento via estímulos ao consumo dá claros sinais de esgotamento",
segundo o relatório. No segundo trimestre, o problema da falta de demanda
tornou-se mais importante para empresas de todos os portes, de acordo com os
informantes consultados. Ainda assim, esse problema continuou como o terceiro
mais grave na lista elaborada com base nas respostas. A carga tributária
continuou no primeiro lugar. No segundo posto ficou a competição acirrada - um
item refletido, sem dúvida, no acelerado aumento das importações de bens
industriais. A taxa de juros só aparece em sétimo lugar, entre as reclamações,
seguida pela falta de capital de giro e pela falta de financiamento de longo
prazo.
Os consultados manifestaram menor otimismo quanto à evolução da
demanda interna e das exportações nos próximos seis meses. Diante disso, parece
irrealista esperar uma retomada significativa dos investimentos.
Os números do comércio exterior confirmam o
diagnóstico de uma indústria estagnada, com muita dificuldade para exportar e
também para manter sua participação no mercado interno.
As previsões otimistas do
presidente do BC podem ser confirmadas, no curto prazo, mas o impulso de
crescimento será certamente limitado. As medidas de estímulo tomadas até agora são de curto alcance.
Os benefícios fiscais são dirigidos a setores selecionados e insuficientes para
neutralizar as distorções provocadas pela péssima tributação. Do investimento público pouco se pode esperar como
contribuição à eficiência da economia. O governo insistirá em lançar novos
pacotinhos, tão inócuos quanto os anteriores, e o discurso otimista será
mantido.
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