Economia
O esquizofrénico livro do Professor Cavaco Silva
Em 1976, recém chegado da Universidade de York (Inglaterra) onde se doutorara, Aníbal Cavaco Silva publicou o livro
Política Orçamental e Estabilização Económica, obra básica de estudo da cadeira de Economia Pública, do ISE, dirigida pelo Professor, com Manuela Ferreira Leite como assistente.
Era um bom livro de estudo, essencialmente keynesiano, basicamente instrumental, com desenvolvimento matemático dos diversos multiplicadores para formulação de políticas orçamentais de estabilização.
Cavaco Silva passou depois para a Universidade Nova (nas suas memórias explica que aceitou o convite que lhe dirigiram porque Económicas, na sequência da Revolução de Abril, já não servia para ensinar Economia) e o livro, com desenvolvimentos importantes, conheceu nova edição em 1982, agora com o título de
Finanças Públicas e Política Macroeconómica. Uma nova edição surgiu em 1992, com uma importante inovação: a adição de um novo capítulo da autoria do Professor João César das Neves. É nesta colaboração que reside a esquizofrenia deste livro.
Afinal, não é este mesmo João César das Neves aquele que diz que a divisão da teoria entre micro e macro é enganadora, preferindo por isso a designação de “teoria da economia agregada”? O que faz então o Professor da Universidade Católica num livro keynesiano, num livro sobre macroeconomia?
Eis uma explicação possível: o livro de Cavaco Silva é bom e é útil mas, como é sabido, o keynesianismo caiu em “desgraça”, pelo menos no discurso oficial e académico. Governos de todo o mundo continuam a aplicar as políticas de “sintonia fina”, mas o discurso público emigrou para outras paragens. O paradoxo desta situação revela-se em muitas situações e, no caso de Cavaco Silva, este decidiu pedir a César das Neves que equacionasse o problema – uma ideia inteligente.
O que o capítulo escrito por JCN diz, em síntese, é isto: OK, o corpo deste livro é keynesiano, mas eu agora vou falar-vos de um outro paradigma, o neoclássico. Apresenta então uma curta excursão pela história do pensamento económico, partindo dos clássicos, passando à “revolução keynesiana” (
sic entre aspas), depois à síntese neoclássica, depois aos monetaristas e finalmente à revolução clássica (
sic sem aspas): Arrow, Debreu, Lucas, etç. João César das Neves conclui o seu capítulo com uma parábola heliocêntrica: quando surgiu o modelo de Copérnico, apesar de ser mais avançado do que o de Ptolomeu, em termos práticos, para cálculo da posição dos planetas, dava resultados inferiores. Moral da história: os keynesianos podem ter, ainda, um instrumental que para cálculo prático é mais eficiente, mas o modelo neoclássico é superior e acabará por prevalecer. Portanto, estudem as equações do Professor Cavaco Silva, apliquem-nas, mas esqueçam a teoria subjacente.
Tudo muito interessante, mas que faz desta obra o mais esquizofrénico livro de teoria económica.
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