Hoje, na FOLHA DE S. PAULO, o colega DELFIM NETTO analisa sobre “O DÓLAR OU A BABEL”. Bom assunto neste momento que o dólar não para de subir...
O irrequieto presidente francês, Nicolas Sarkozy, afirmou que, "se fabricamos em euros e vendemos em dólares, com o dólar que cai e o euro que sobe, como vamos compensar o deficit de competitividade?" Qual é a sua solução para o dilema? Como "o mundo tornou-se multipolar, o sistema monetário também deve tornar-se multipolar", proposta que apresentará na próxima reunião dos G20.
Deixando de lado a ambiguidade da sugestão, é claro que ele não pensou seriamente no assunto. Em primeiro lugar porque as operações comerciais de bens e serviços não chegam a 5% do movimento de câmbio mundial. O resto é movimento de capitais em tempo real (diariamente equivalente ao PIB brasileiro anual) realizado por agentes especializados em mercados que funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana...
Em segundo lugar (e se estou lembrado do meu cálculo combinatório), se cada país tentasse realizar as operações de bens e serviços em sua própria moeda, com 20 países, seria necessário que existissem mercados capazes de estabelecer simultaneamente 190 taxas de câmbio que obedeçam a 3.420 taxas cruzadas de equilíbrio. Com 170 países (mais ou menos o que existe no mundo), seria preciso construir mercados capazes de estabelecer 14.365 taxas de câmbio, que obedecessem a nada menos do que 2.413.320 taxas cruzadas de equilíbrio! Seria a Babel e o paraíso dos arbitradores.
Por que não vamos diretamente ao problema, que é: 1º) exigir que o organismo internacional, a OMC, obrigue os seus membros a obedecerem seus compromissos (o que não ocorre com relação à China); e 2º) desestimular o livre movimento de capitais especulativos? Por que temos de continuar poetizando sobre a substituição do dólar como moeda de referência internacional? Isso um dia vai acontecer naturalmente (ou artificialmente com uma "moeda fictícia").
Por definição essa nova moeda deverá: 1º) ter poder liberatório (ser universalmente aceita); 2º) ter a confiança dos operadores (que devem manter nelas suas posições futuras); e 3º) ser a moeda em que se realizam as operações de Bolsa (à vista e futuro) que estabelecem os preços internacionais.
Em uma palavra: deverá ter a confiança irrestrita dos agentes econômicos. A coisa mais ridícula é supor que a moeda chinesa possa, num horizonte visível, substituir o dólar. Logo a China, que viola todas as regras do comércio internacional e cujas instituições obedecem ao arbítrio do PC Chinês. A moeda é uma instituição social apoiada na confiança. Não pode ser criada por um ato de vontade!