Economia
Números redondos, contas erradas
Apesar de todo o racionalismo e do preciosismo das várias casas decimais (como aconteceu com o défice estimado por Vítor Constâncio) o pessoal continua, muito romanticamente, a preferir os números redondos e a encontrar "verdades" cabalísticas, reveladas através de números mágicos. Foi o que aconteceu quando se tomou conhecimento, através da proposta de orçamento rectificativo, de que o peso do Estado tinha, pela primeira vez, ultrapassado a "barreira" dos 50 % do PIB.
"Maldição!" - gritaram os feiticeiros e os aprendizes. Correia de Campos poderia ter aproveitado para filosofar: "ainda bem, é a parte oculta do icebergue que se torna visível", ou então: "é sinal de que há cada vez mais solidariedade social".
Contudo, vem agora o ministro das Finanças (que cada vez mais se afigura como um erro de
casting) reconhecer que se enganou nas contas (ler notícia):
«no comunicado emitido ao final da tarde, o Ministério das Finanças explicava que na passagem das contas do critério da "contabilidade pública para a contabilidade nacional" houve a "dupla inscrição de verbas relativas a movimentos de capital entre o subsector Estado e os restantes subsectores".»
Pois, é tudo muito bonito, mas como é que fica o peso do Estado ? Passa ou não passa a barreira dos cinquenta ?
«Campos e Cunha admitiu que o montante final não está ainda apurado “mas será certamente acima dos 49 por cento [do PIB] e certamente abaixo dos 50 por cento”.»
Afinal, quem é que se enganou: o cavalo, ou quem anda a montá-lo ? Que tristeza: lá terão os comentadores que colocar a viola no saco. Os caracóis, envergonhados, recolherão os palitinhos à casca. Os almocreves tirarão, pesarosos, os cavalinhos da chuva. E eu, muito dylanescamente, pensarei por pautas de música:
But you who philosophize disgrace
And criticize all fears,
Take the rag away from your face
Now ain't the time for your tears.
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