"Entre Deus e o diabo: mercados e interação humana nas ciências sociais" Artigo de Ricardo Abramovay - "Tempo Social", revista de sociologia da Universidade de S. Paulo (Nov. 2004, vol.16, no.2, p.35-64) «A principal característica da Nova Sociologia Económica, que ganha prestígio crescente nos Estados Unidos e na Europa, é estudar os mercados não como mecanismos abstractos de equilíbrio, mas como construções sociais. Esta orientação, longe, entretanto de opor-se aos procedimentos da ciência económica é também partilhada por alguns dos seus mais importantes expoentes. É bem verdade que a economia contemporânea faz jus à reputação tão difundida de ciência cinzenta, mecânica e incapaz de incorporar preceitos éticos nos seus pressupostos. Mas parte importante e cada vez mais significativa da disciplina volta-se justamente para o estudo de formas concretas de interacção social e coloca em dúvida as motivações puramente egoístas e maximizadoras postuladas axiomaticamente pela tradição neoclássica. Entre estas correntes destaca-se a Nova Economia Institucional, cujos temas são objecto também da Nova Sociologia Económica. Apesar das suas diferenças de abordagem, ambas contribuem para evitar que os mercados sejam encarados como soluções mágicas para todos os problemas sociais ou como formas diabolizadas de interação que a emancipação humana acabará um dia por suprimir. |