Economia
Mudanças na política monetária?
MARIO MESQUITA, doutor em economia pela
Universidade de Oxford, escreveu este artigo na FOLHA DE S. PAULO.
Reportagens recentes sugerem que uma das
razões para manter, ou quiçá aprofundar, a trajetória de redução das taxas de
juros seria o fato de que o grosso da pressão inflacionária estaria associado
aos preços dos serviços, que correspondem a cerca de um terço do IPCA (índice
oficial de inflação), ao passo que os demais itens teriam inflação bem
comportada.
Trata-se de uma variação surrada do tema da
inflação estrutural, contra a qual nada pode ou deve ser feito. Essa é uma tese
que tem popularidade impressionante na nossa região, que é também a que tem um
dos piores históricos inflacionários do mundo, com o Brasil em papel de
destaque.
Os países da Ásia, para sua sorte, nunca se
empolgaram muito com esse atalho latino-americano, e decidiram perseguir o crescimento
acelerado sem abrir mão da estabilidade de preços. Mas por aqui a tese da
inflação estrutural ou inevitável ainda campeia.
Para ser geograficamente preciso, contudo,
cabe reconhecer que a tese da inflação estrutural tem perdido seu
"appeal" na parte setentrional da América Latina.
O Banco do México, por exemplo, tem
recorrentemente notado em seus documentos oficiais que a inflação subjacente de
serviços é aquela que melhor reflete os determinantes domésticos da inflação.
É fato que a inflação de serviços tem maior
persistência do que a de mercadorias, mas ela é também menos sensível a fatores
externos -à chamada inflação importada. É por essa razão que a maioria dos
bancos centrais olha com atenção para a dinâmica de preços de serviços.
Outra forma de encarar o problema é notar que
as medidas de núcleos de inflação por exclusão, no Brasil e em outros países,
em geral descontam do índice cheio a variação de itens mais voláteis, como
alimentos perecíveis e combustíveis, mas não o preço dos serviços.
Cabe notar também que, se a dinâmica dos
preços de serviços manifesta inércia e reflete em parte indexação informal à
inflação passada, é porque não conseguimos reduzir a inflação para um patamar
que torne essas práticas obsoletas.
De fato, é plausível supor que a indexação só
não é mais generalizada porque em diversos setores da economia a concorrência
efetiva, ou temida, dos importados a tem inibido -evidentemente, maior
protecionismo tenderia a favorecer o recrudescimento da indexação também nos
mercados de produtos.
É verdade, também, que fatores estruturais,
típicos do processo de desenvolvimento, tendem a promover a elevação dos preços
dos serviços, mas, se isso ocorre com inflação de serviços a 5%, 6% ou 9%, como
agora no Brasil, depende também da posição da política monetária.
Em suma, não faria sentido calibrar a
política monetária apenas para conter a inflação dos serviços, mas excluí-la do
conjunto de informações relevantes não parece razoável.
As inovações no campo do debate doméstico
sobre política monetária não param por aí. Nas últimas semanas voltou a emergir
a corrente dos que defendem que a política monetária deve dar peso não apenas à
inflação e à atividade mas também à taxa de câmbio (é isso, um instrumento e
três objetivos).
Mesmo que consideremos que o Banco Central
dispõe também de instrumentos macroprudenciais, como sugerem muitas leituras da
crise mundial de 2008, continuaríamos com um objetivo de sobra. Não parece
muito sensato esperar tanto de uma só instituição.
Nesse ambiente, não surpreende que reine
certa confusão no processo de formação de expectativas dos investidores sobre
qual seria a real função da autoridade monetária no atual arcabouço de política
-justiça seja feita, essa confusão não deriva dos documentos oficiais do Banco
Central, ou de pronunciamentos de seus dirigentes, que mantém o compromisso com
o regime de metas para a inflação.
Mas a confusão existe, influencia os preços
de ativos e reflete ao menos em parte as sugestões de outras áreas do governo e
de círculos alegadamente próximos ao poder.
Há limites para o que a comunicação oficial
pode conseguir, e essa confusão acabará sendo dirimida pelas decisões a serem
tomadas proximamente pelas autoridades.
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