Economia
Minhas irritações com a presidente.
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, 79, advogado, é professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra e escreveu este artigo na Folha de S. Paulo.
Para reflexão dos indecisos de segundo turno...
Em 16 de março de 2011, publiquei nesta Folha um
artigo em que apoiava a presidente Dilma e seu vice, Michel Temer --meu
confrade em duas Academias e companheiro de conferências universitárias--,
pelas ideias apresentadas para o combate à corrupção e a promoção do
desenvolvimento nacional.
Como mero cidadão, não ligado a qualquer
partido ou governo, tenho, quase quatro anos depois, o direito de expressar
minha irritação com o fracasso de seu governo e com as afirmações não
verdadeiras de que o Brasil economicamente é uma maravilha e que seu governo é
o paladino da luta contra a corrupção.
Começo pela corrupção. Não é verdade que,
graças a ela, os oito anos de assalto à maior empresa do Brasil, estão sendo rigorosamente
investigados. Se quisesse mesmo fazê-lo, teria apoiado a CPI para apurar os
fantásticos desvios, no Congresso Nacional.
A investigação se deve à independência e à
qualidade da Polícia e do Ministério Público federais que agem com autonomia e não
prestam vênia aos detentores do poder. Nem é verdade que demitiu o principal
diretor envolvido. Este, ao pedir demissão, recebeu alcandorados elogios pelos
serviços prestados!
Por outro lado, não é verdade que a economia
vai bem. Vai muito mal. Os recordes sucessivos de baixo crescimento,
culminando, em 2014, com um PIB previsto em 0,3% pelo FMI, demonstram que seu
ministro da Fazenda especializou-se em nunca acertar prognósticos.
Acrescente-se que também não é verdade que
controla a inflação, pois, se o PIB baixo decorresse de austeridade fiscal,
estaria ela sob controle. O teto das metas, arranhado permanentemente,
demonstra que a presidente gerou um baixo PIB e alta inflação.
Adotando a pior das formas de seu controle, que
é o congelamento de tarifas, afetou a Petrobras e a Eletrobras, fragilizando o
setor energético, além de destruir a indústria de etanol, sem perceber que
desde Hamurabi (em torno de 1700 a.C.) e Diocleciano (301 d.C.) o controle de
preços, que fere as leis da economia de mercado, fracassou, como se vê nas
economias argentina e venezuelana, que estão em frangalhos.
O mais curioso é que o Plano Real, que tanto
foi combatido por Lula e pelo PT, é o que ainda dá alguma sustentação à
Presidência.
Em matéria de comércio internacional, os governos
anteriores aos atuais conseguiram expressivos saldos na balança comercial, que
foram eliminados pela presidente Dilma. Apenas com artimanhas de falsas
exportações é que conseguiu obter inexpressivos saldos. O "superavit
primário" nem vale a pena falar, pois os truques contábeis são tantos,
que, se qualquer empresa privada os fizesse, teria autos de infração
elevadíssimos.
Seu principal eleitor (o programa Bolsa
Família) consome apenas 3% da receita tributária. Os 97% restantes são
desperdiçados entre 22 mil cargos comissionados, 39 ministérios, obras
superfaturadas, na visão do Tribunal de Contas da União, e incompletas.
Tenho, pois, como cidadão que elogiou Sua
Senhoria, no início --para mim Sua Excelência é o cidadão, a quem a presidente
deve servir--, o direito de, no fim de seu governo, mostrar a minha profunda
decepção com o desastre econômico que gerou e que me preocupa ainda mais, por
culpar os que criam riqueza e empregos em discurso que pretende, no estilo
marxista, promover o conflito entre ricos e pobres.
Gostaria, neste artigo --ao lembrar as palavras
de apoio daquele que escrevi neste mesmo jornal quase quatro anos atrás--,
dizer que, infelizmente, o fracasso de seu projeto reduziu o país a um mero
exportador de produtos primários, tornando este governo um desastre econômico.
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