«Durante o próximo mês a Comissão Europeia anunciará uma modesta proposta para reformar o altamente subsidiado e detalhadamente regulamentado sector viti-vinícola. A verdade é que os experimentados funcionários de Bruxelas tiveram de recuar perante a reacção adversa dos governos nacionais. Embora cada um tenha as suas queixas, a resposta global da "cintura vinícola" da Europa foi a de cavar trincheiras e resistir perante os apelos à liberalização, em nome da tradição e alta cultura. A oposição nem sequer é acerca de dinheiro, porque a Comissão tornou claro que não cortaria um cêntimo do orçamento para o vinho. Mariann Fischer Boe, a norueguesa comissária da Agricultura, desabafou que "há mais tensão no vinho do que já vi em qualquer outro produto agrícola".
(...)
«Nem toda a algazarra acerca dos planos da Comissão é ideológica. Existem divergências, por exemplo, acerca da utilização de açúcar, no norte e centro da Europa, para melhorar o vinho em anos maus. Mas a maior batalha é acerca da liberalização: a arriscada ideia que é fazer vinho que os consumidores desejem efectivamente comprar.
«A Comissão também quer arrancar 200 mil hectares de vinhas (cerca de 6% do total da UE) e pagar aos agricultores que não conseguem vender o seu vinho, para que abandonem o sector. Uma vez isso feito, prevê colocar restrições à plantação de novas vinhas em 2014, para permitir que os produtores eficientes se possam expandir. Mas existe uma grande oposição ao arranque de vinhas. O ministro alemão da agricultura, Horst Seehofer, convidou no mês passado a srª. Fischer Boel e os seus colegas ministros da agricultura para uma abadia perto de Mainz, onde os agraciou com um Riesling de 50 anos, ao mesmo tempo que classificava os planos da Comissão para arranque de vinhas como "não muito razoáveis". Os agricultores até podem ser pagos para arrancar as vinhas, mas o que é que irão fazer a seguir, perguntou ele, apoiado por Portugal e outros.»
"In vino veritas", The Economist, 14.Jun.2007