Greve, para quê?
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Greve, para quê?



O passado dia 24 de Novembro assinalou a realização no nosso País, da segunda Greve “Geral” em mais de duas décadas, com contornos e evidências que merecem uma aturada reflexão.
Como tende a acontecer em todas as greves, mais do que as palavras de ordem que a antecederam ou as declarações enfáticas produzidas no seu decurso, importam os saldos finais das adesões, que redundam invariavelmente em contabilidades totalmente antagónicas.
Assim, na óptica dos seus promotores, as greves são sempre marcadas por um enorme sucesso e participação, com a ressalva de que os demais só não aderiram porque estavam a ser alvo de pressões e ameaças exacerbadas das entidades patronais.
Pelo contrário, as entidades patronais ou o Governo defendem que a greve registou níveis mínimos de adesão e que, muitos dos que foram considerados grevistas apenas participaram no protesto com medo das retaliações dos colegas.
Em relação à greve da passada Quarta-feira, a primeira ressalva que se pode fazer, independentemente das opiniões expressas de parte a parte é que de “geral” a mesma só teve a origem na convocação simultânea por parte das principais centrais sindicais – UGT e CGTP – e de vários outros sindicatos independentes.
Na prática, porém, a greve foi francamente focada no sector público – onde registou níveis de adesão consideráveis – sendo praticamente residual no sector privado. Mais, boa parte da adesão registada nesse sector resultou dos fortes condicionalismos que a greve provocou num sector crucial para o normal desenvolvimento da actividade económica - o dos transportes – e que impediu vários milhares de portugueses de se deslocarem para os seus postos de trabalho.
Se juntarmos a tal evidência os constrangimentos de muitas famílias que resultaram do encerramento das escolas e da necessidade de darem o devido acompanhamento aos seus filhos menores, compreende-se que a parcela de grevistas “não aderentes” tende a aumentar.
Pessoalmente, considero que a greve é um direito garantido constitucionalmente e que quem o exerce o faz na convicção de que está a defender os seus interesses e/ou os da sua classe profissional.
Daí que, entenda, toda e qualquer greve merece o respeito pela opção de quem a ela adere, desde que o faça de forma consciente e não forçada por via de outras condicionantes, como sejam os execráveis “piquetes de greve”.
O respeito por tal opinião não tem todavia que se traduzir numa concordância com a mesma, seja nas suas motivações, seja nos resultados esperados.
Neste caso, a greve do dia 24 revestia-se de contornos ainda mais singulares uma vez que a mesma não era convocada especificamente contra o Governo ou determinada iniciativa política em particular (como aconteceu no passado recente com o Código Laboral), mas era dirigida contra essa entidade abstracta que são “as políticas de austeridade”, num saco em que, na medida das conveniências de cada um, ora cabia o Governo do PS, ora a cumplicidade do PSD, ora as imposições de Bruxelas, ora os ataques dos especuladores do mercado, ora, ora, ora…
A ser assim, a situação é ainda mais grave por dois motivos. Desde logo, porque demonstra que mais do que a perda de penetração na população activa, as estruturas sindicais tendem a resvalar para a perda de consciência sobre a realidade envolvente, mergulhando em modelos utópicos que são apanágio dos partidos de extrema-esquerda ou de candidatos presidenciais desorientados.
Bem pelo contrário, aquilo de que o País necessitava neste momento era de estruturas sindicais fortes, corajosas e colaborantes, disponíveis para encontrar as soluções que permitissem ultrapassar os bloqueios estruturais com que Portugal se confronta e evitar o trágico destino que se avizinha.
Em segundo lugar, porque esta greve estava à partida condenada ao insucesso, não tanto pelo número de participantes, mas pela irrelevância do seu impacto na alteração das políticas públicas (tanto mais que os desmandos dos Governos socialistas dos últimos 15 anos e os desperdícios colectivos que protagonizámos enquanto Nação vão ter um preço claro a pagar nos próximos anos).
Mais do que um protesto ou reivindicação, esta greve foi a afirmação de um estado de alma, de todos quantos quiseram dizer que não são felizes. Mas, mesmo aí, talvez até só tenha captado a adesão dos que menos razões têm para se sentir assim.

PS – No passado fim-de-semana, a campanha do Banco Alimentar voltou a bater recordes de donativos angariados junto das diferentes comunidades.
É que, mudar o “estado das coisas”, em benefício do Pais e dos cidadãos, não é algo que se sonhe, prometa ou exija. É algo que se faz!



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