«Primeiro, porque, numa situação de excesso de despesa, mais investimento em obras públicas irá favorecer sobretudo as economias de onde importamos, sem efeito sensível na capacidade produtiva da economia portuguesa, agravando o défice externo (pois só há financiamento parcial de fundos comunitários).Alternativa proposta:
«Segundo, porque o tipo de emprego mobilizado pela construção pouco efeito terá na absorção do desemprego fabril gerado pela perda de competitividade da nossa indústria e mobilizará sobretudo a imigração.
«Terceiro, porque tais investimentos irão agravar ainda mais o desequilíbrio das contas públicas, seja pela despesa directa, seja pelos custos de exploração futura, seja, como aconteceu nas SCUTS, pelas inevitáveis garantias para assegurar a mobilização do sector privado. Pelo menos!
«Por fim, porque os portugueses não poderão compreender que lhes estejam a ser pedidos sacrifícios com impacto no seu nível de vida, quando o Estado se dispõe a gastar dinheiro em projectos sem comprovada rendibilidade económica e social.»
«Uma urgente e dedicada concentração de esforços visando apropriadas medidas de contenção orçamental (com uma estrita selectividade das despesas públicas), de incentivo económico a favor dos sectores produtores de bens transaccionáveis, de promoção da eficiência económica (nomeadamente através da redução das ineficiências geradas pelo próprio Estado) e de uma moderação da despesa colectiva.»O mesmo jornal apresenta os argumentos com que o ministro Manuel Pinho respondeu, ontem, às criticas ao tal programa de grandes investimentos públicos em infraestruturas (PIIP):
Primeira crítica: o investimento público é o motor do crescimento. "Não, não é", sustenta Pinho. "Durante o período coberto pelo PEC entregue em Bruxelas, o investimento público não poderá ultrapassar os 3% do PIB. O motor do crescimento de longo prazo é o Plano Tecnológico."
Segunda crítica: o investimento público previsto nos PIIP vai aumentar o défice externo num montante de 10 % do PIB. "Não, não vai", recusa o ministro. "O investimento previsto é cerca de 30% do previsto no PEC. Como este é de de 3% do PIB, o pior que poderia acontecer seria o défice aumentar em 0,9%. Mas para tal seria necessário que todo o investimento consistisse em importações, quando o programa foi desenhado para aumentar a competitividade."
Terceira crítica: não foram ordenadas prioridades e os investimentos não são selectivos. "Pelo contrário, a filosofia dos PIIP é de, logo no início de uma legislatura, assumir compromissos relativamente às prioridades mais importantes", rebate Manuel Pinho.
Quarta crítica: o Governo escolheu obras faraónicas, porque decidiu avançar com o novo aeroporto e com o comboio de alta velocidade. "Os investimentos em transportes e em logística são aqueles que têm um efeito multiplicador mais elevado", replicou o ministro, "sobretudo em economias que, em termos geográficos, têm uma localização periférica. É esse o nosso caso".