Economia
Fim de semana para ser lembrado.
LUIZ CARLOS
MENDONÇA DE BARROS, 68, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest
Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo
Fernando Henrique Cardoso). Escreveu este artigo especialmente para a FOLHA DE
S. PAULO.
No próximo fim de semana teremos um encontro de chefes de Estado da zona do
euro para definição das regras do Feef (Fundo Europeu de Estabilização
Financeira), aprovado nos últimos meses pelos parlamentos nacionais.
O
Feef terá o total de € 440 bilhões para atuar na estabilização do mercado de
títulos de dívida soberana de vários países da região. Em sua primeira versão,
o Feef já realizou, com o Fundo Monetário Internacional, três operações de
financiamento aos tesouros da Grécia, da Irlanda e de Portugal. Vivia-se então
a ilusão de que esses recursos seriam suficientes para isolar esses pequenos
países em crise do chamado núcleo duro da Comunidade Europeia.
Mas a crise fiscal se mostrou mais grave do que a prevista pelos políticos. A
desconfiança dos mercados chegou rapidamente aos títulos da Espanha e da
Itália.
Além
disso, ficou claro que os bancos alemães e franceses eram os grandes detentores
de títulos da dívida dos chamados Pigs. Os mercados passaram a temer, então,
por uma crise bancária sistêmica, com repercussões em outras regiões fora da
Europa. Pelo canal financeiro, a crise europeia ganharia dimensões planetárias.
É
nesse cenário assustador que se dará a reunião na Europa neste fim de semana.
Nos últimos dias, vivem-se no velho continente momentos de Terceiro Mundo.
Boatos circulavam pela mídia sobre decisões que poderiam ser tomadas e que
faziam oscilar -para cima e para baixo- os mercados.
Manchetes de jornais substituíram análises e considerações técnicas sobre ações
de empresas e taxas de câmbio de moedas de vários países. Políticos alemães e
franceses, refletindo os conflitos que existem entre os dois países sobre como
enfrentar a crise atual, se sucediam em declarações conflitantes.
Os investidores de maior seriedade retiraram-se dos mercados e recolheram-se às
aplicações financeiras mais seguras, deixando os mercados nas mãos dos
especuladores da pior qualidade.
Vou procurar dar ao leitor da Folha uma visão simplificada sobre as principais
alternativas que serão discutidas pelos líderes europeus.
A mais importante decisão a ser tomada será a possibilidade de serem utilizados
os recursos do Feef para cobertura parcial de risco de crédito nos bônus
emitidos pelos países europeus.
Esse mecanismo permitirá transformar os € 440 bilhões do Feef em mais de € 1
trilhão em garantia para os investidores no futuro. Uma decisão inteligente,
mas que precisa ainda de aceitação pelos conservadores políticos alemães.
Outro ponto relevante que terá de ser definido é uma rodada compulsória de
aumento do capital dos bancos europeus -algo entre € 100 bilhões e € 200
bilhões- para permitir a absorção dos prejuízos com os títulos dos países mais
endividados -como Grécia e Portugal- no caso de uma quase certa moratória.
Nesses dois casos, deverá haver uma redução de pelo menos 50% no valor original
dos títulos em circulação para adequar o tamanho da dívida pública a sua
capacidade de pagamento.
Mas, para que isso possa ocorrer, sem que uma crise sistêmica seja criada -afetando
principalmente Espanha e Itália-, será necessário que a garantia do Feef esteja
claramente definida e aceita pelos investidores. Minha expectativa é que esses
dois pontos sejam aprovados e que um pouco de calma e racionalidade possa
voltar ao mercado nas próximas semanas.
Entretanto, as incertezas e as dúvidas dos investidores devem manter a
volatilidade dos principais ativos financeiros por mais algum tempo. Mas pelo
menos os governos terão à sua disposição instrumentos mais efetivos para agir. A
crise europeia, entretanto, ficará entre nós por um tempo bastante longo.
Os ajustes que se farão necessários na maior parte dos países que usam o euro
vão precisar de tempo para serem implementados com algum sucesso. Nos próximos
anos a economia da velha Europa vai se parecer muito com a do Japão depois da
bolha imobiliária dos anos 1980.
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