Quando José Tavares se demitiu de coordenador do Plano Tecnológico, comentámos aqui ("Este é o nosso fado") que tudo indicava que a demissão seria apenas a ponta o icebergue de problemas mais profundos: a resistência por parte da estrutura administrativa e de poder ao desenvolvimento de uma estratégia inovadora, que necessariamente teria de bulir com a relação de poderes dentro da administração pública. Um pouco insolitamente, o mesmo José Tavares aproveitou uma conferência do primeiro-ministro para revelar que havia um ministro que se opunha à concretização de uma das medidas sonantes daquele Plano: um acordo de cooperação com o Massachussets Institute of Technology (MIT). A iniciativa é insólita porque não é curial que alguém que participou na concepção de um projecto público, venha utilizar informação privilegiada obtida nesse contexto para incomodar politicamente quem, inicialmente, o convidou para tal cargo. Claro que José Tavares pode estar cheio de razão, mas o assunto talvez pudesse ter sido tornado público de outra forma, eventualmente mais elegante. O assunto, entretanto, entrou no domínio da lavagem da roupa suja. Os jornais trataram logo de descobrir quem seria a "força de bloqueio": o ministro da Ciência e Tecnologia, Mariano Gago, o qual vem agora negar (obviamente) qualquer oposição à vinda do MIT (notícia do jornal Público). O que é triste é isto: não se discute o Plano nem se discute a natureza do projecto MIT. Tudo o que "interessa" é a fulanização. Alguns comentários na blogosfera portuguesa: «A ambígua resposta de Sócrates quer dizer apenas uma coisa - a questão avançará quando Gago já não for ministro. Resta saber se o MIT esperará até lá.» «O assunto, que poderia ser importante, e revelador de muitos dos nossos problemas (e também de acidentes da sociedade internacional "globalizada"), começou, como é óbvio, com uma peça de escandaleira.» «A recente polémica da instalação em Portugal do MIT teve o mérito de pôr a nu o estado de precariedade do Ensino Superior no nosso país, profundamente enfeudado às doutas cabeças de outrora e à reverência e ao invencível estado de prostração perante o “Santo Grau”.» «O ministro da Ciência e Tecnologia acusou José Tavares de proferir afirmações falsas e de ter prestado um péssimo serviço ao país. É o primeiro passo, em português, para um grande good bye ao projecto do MIT para Portugal. » «Nuno Melo [líder parlamentar do CDS], depois de hoje pedir explicações ao Executivo, avançou à TSF com o que corre em surdina nos corredores de S. Bento: uma das razões do “tal Ministro” (...) teria a ver com o facto de o Projecto do MIT, apresentado ao Governo, prever recrutar e trabalhar com a melhor “massa cinzenta” de todas a Universidades portuguesas, enquanto o “tal Ministro” queria contrato de exclusividade com apenas uma (um doce para quem adivinhar qual era). “Endogamia” tecnológica na versão mais ciumenta e abortiva?» «Mariano Gago nega oposição à entrada do MIT em Portugal «PS: Senhor ministro, não se preocupe que a gente percebe. O senhor não é contra a entrada do MIT. O senhor só é contra a entrada do MIT para a Universidade Nova.» «basicamente o senhor ministro disse que não há desencontro de opiniões e que era mesmo uma questão de independência nacional ... e disse mais ...disse que o Tavares é puto...funcionário público...professor nos começozinhus da carreira e que o doutoramentozinho foi à pala do Estado com uma bolsa da FCT ...portanto eu traduzo... "Ó Tavares... rapazola ... axandra-te pá... olha a carreira..." «Porque razão o sr. Tavares - aquando da sua demissão - não convocou um ou dois microfones e dava uma conferência de imprensa, explicando aí as verdadeiras razões das sua demissão... Não o fez, depois reagiu como um garoto a quem tiraram o xupa-xupa e o carrinho da match-bock.» |