Evidence-Based Economics
Economia

Evidence-Based Economics



  Edmund S. Phelps

      «Existe um movimento na Medicina nos sentido de exigir que os pedidos de autorização para venda de novos medicamentos sejam "baseados na evidência". Por contraste, economistas de formação encaram a sua disciplina como tendo já atingido este padrão científico. Afinal, eles expressam as suas ideias através da matemática e chegam a estimativas quantitativas de relações implícitas a partir de dados empíricos.
      Mas a Economia não se baseia na evidência quando selecciona os seus paradigmas teóricos. As iniciativas de política económica são frequentemente tomadas sem toda a pré-testagem que poderia ter sido realizada.
      Um exemplo notório é a política macroeconómica do pós-guerra, seguindo os radicais keynesianos. Os radicais apoiavam-se na teoria keynesiana, não testada, de que o desemprego depende da “procura efectiva” em relação com o “salário monetário”, mas essa política ignorava a parte acerca dos salários e procurava estabilizar a procura a um nível suficientemente elevado para assegurar o “pleno emprego”.
      Cecil Pigou e Franco Modigliani objectaram que se a procura fosse suficientemente aumentada, o salário monetário aumentaria e “apanharia” a procura, o que empurraria o desemprego para o seu nível anterior. O emprego não pode ser sustentado acima do seu caminho de equilíbrio inflacionando a procura efectiva.
      Apesar de tudo, os radicais prevaleceram através daquilo a que o economista Harry Johnson designou como “desprezo e desdém”. As políticas macroeconómicas do pós-guerra eram dedicadas ao “pleno” emprego, sem qualquer evidência de que os salários monetários não se atravessariam nesse caminho.
      No final dos anos 1950 os neo-keynesianos finalmente aceitaram o argumento levantado por Pigou e Modigliani. Após o trabalho de Will Phillips acerca dos salários não lhes restou outra opção. Mas continuavam a insistir em que aumentos estáveis da procura, a uma taxa suficientemente rápida, manteria a procura um degrau acima do nível do salário monetário, mantendo-se o emprego tão alto quanto se desejasse, apesar do custo da constante inflação.
      De modos diferentes, Milton Friedman e eu objectámos que uma tal política exigiria uma taxa de inflação em constante crescimento. Os salários monetários manter-se-ão atrás da procura – argumentei eu – apenas enquanto a empresa representativa for impedida de aumentar os salários pela incompreensão de que os salários das outras empresas estão já mais baixos do que os dela – um desequilíbrio que não pode durar.
      Tal como os radicais, os neo-keynesianos não responderam aos seus oponentes com testes empíricos. A eficácia da procura elevada era uma questão de fé. Mas os acontecimentos dos anos 1970 submeteram essa fé a um teste cruel. Quando os choques da oferta atingiram a economia dos EUA, a resposta dos neo-keynesianos foi acrescentar mais procura, acreditando que faria reviver o emprego. Houve pouca recuperação – apenas inflação mais acelerada.
      Na época corrente encontramos um paralelismo. Embora as políticas tenham, desde então, passado a reflectir a economia do lado da oferta e a teoria dos ciclos económicos reais, os construtores e promotores do novo paradigma reinante manifestam a mesma antipatia pela verificação dos dados, para precaver erros sérios.
      Uma anterior lição escolar fora bem fundamentada: taxas de imposto sobre o trabalho temporariamente abaixo do normal, no corrente ano, quando misturadas com a previsão de retorno às taxas normais no próximo ano, encorajarão as famílias a acumular mais trabalho no corrente ano e a trabalhar menos nos anos futuros. Esta proposição foi recentemente testada de novo na Islândia e saiu-se bem.
      Mas os crentes do lado da oferta formularam a ousada conclusão de que um corte permanente nas taxas de imposto sobre o trabalho encorajarão mais trabalho permanentemente – sem diminuição da sua eficácia. Tanto Larry Summers como eu duvidámos que isto pudesse ser genericamente verdade. Se cada acréscimo na taxa salarial após impostos desse um impulso permanente à quantidade de trabalho fornecido, pensámos nós, o aumento acentuado dos salários depois de impostos desde meados do século dezanove, teria provocado um extraordinário acréscimo na duração da semana de trabalho e na idade de reforma. Mas ambas caíram e na Europa continental o desemprego está mais alto.
      Na minha visão, este dogma central da economia do lado da oferta apoia-se num erro grosseiro. O que interessa para o acréscimo de trabalho oferecido é a taxa salarial depois de impostos relativamente aos rendimentos da riqueza [património]. Embora as taxas salariais após-impostos tenham subido durante mais de um século, a riqueza e o rendimento que proporcionaram cresceram de modo igualmente rápido.
      Na realidade, se as taxas de imposto descessem permanentemente este ano, haveria inicialmente um forte efeito positivo no trabalho oferecido. Mas haveria igualmente um efeito positivo nas poupanças e portanto na riqueza, no próximo ano e seguintes. A longo prazo, a riqueza tenderia a aumentar na mesma proporção que os salários após impostos. O efeito sobre o trabalho desvanecer-se-ia.
      Devemos agir com cautela, contudo. Nas análises padrão, os cortes de impostos levam a uma redução nas compras governamentais de bens e serviços, tais como a defesa. Mas um corte de impostos poderia igualmente fazer contrair o estado-providência – assistência social e segurança social, que constituem riqueza social. Trata-se de uma questão empírica.
      Investigações que eu e Gylfi Zoega fizemos há uma década confirmaram que cortes nos impostos sobre o trabalho impulsionam o emprego a curto prazo. Mas, e quanto ao longo prazo? Será que os efeitos de longo prazo das taxas de imposto se manifestam nas diferenças internacionais do emprego?
      Em 1998 examinámos dados da OCDE à procura de uma correlação entre as taxas de desemprego nacionais de meados dos 90 e as taxas de imposto correntes sobre salários. Não encontrámos nenhuma. Em 2004 verificámos as taxas de participação do trabalho e de novo o desemprego. De novo sem correlação. Os países de elevado desemprego incluem casos de impostos elevados tais como a Alemanha e a França, mas igualmente de impostos baixos tais como o Japão e a Espanha. Países com baixo desemprego incluem taxas baixas (Grã-Bretanha, EUA) mas também taxas altas (Dinamarca, Suécia).
      Os neo-liberais andam agora a dizer à Europa continental que cortes nas taxas sobre o trabalho podem fazer dissolver o desemprego elevado. Mas a efectividade de tais cortes de impostos seria largamente, se não totalmente, transitória – especialmente se o estado-previdência fosse poupado. No prazo de duas décadas o desemprego elevado voltaria a prevalecer. As falsas esperanças geradas pelos cortes de impostos afastaria os políticos das reformas fundamentais que são necessárias se a Europa continental quiser atingir o dinamismo de que dependem as altas taxas de inovação, abundante criação de emprego e produtividade de nível mundial.»

Tradução de texto publicado no Project Syndicate




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