Entrevista na FOLHA com Mônica de Bolle.
Economia

Entrevista na FOLHA com Mônica de Bolle.



Hoje na FOLHA  uma boa entrevista com a economista Mônica Baumgarten de Bolle, 40, diretora do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças, local que reúne economistas de pensamento liberal, muitos deles formados na PUC-RJ.

Leia abaixo trechos da entrevista à Folha.

Folha - Por que a economia está parada?
Mônica de Bolle - A indústria, que não vai bem há pelo menos dois anos, é em parte responsável. O segundo fator foi uma quebra de safra agrícola brutal. Isso e o baixo crescimento nos EUA, a recessão na Europa e a desaceleração na China explicam o PIB do primeiro semestre.

Como fazer para tirar a economia dessa situação?
Mais investimento. No início dos anos 2000, a taxa de investimento do Brasil era de 15% sobre o PIB. Hoje está em torno de 19%, muito aquém de países como Chile, que investe perto de 28%, e México, 25%. Numa conta rápida, precisamos investir ao menos 8% a mais por ano para chegar a taxas comparáveis a essas nos próximos cinco anos.

O que a sra. achou do pacote de concessões em infraestrutura lançado pela presidente Dilma Rousseff?
O anúncio carrega sinalizações importantes, como o reconhecimento de que existe um problema grave de infraestrutura no país. O mais importante é a mudança de posição do governo em relação à participação do setor privado nos grandes projetos. Mas nada disso vai ter um efeito de curto prazo.

A sra. concorda que a política de crescimento econômico com base no incentivo ao consumo está se esgotando?
Não gosto desse bordão e não acho que seja verdade. Houve incentivo ao consumo, sim, e muito. Mas o crescimento de 2004 a 2010 veio também do investimento e do gasto público. Agora as famílias estão amortizando suas dívidas em um cenário de queda de juros e de pleno emprego. São condições ótimas para a volta do consumo.

Como temos pleno emprego no Brasil se a indústria vai mal e economia anda de lado?
O perfil da economia brasileira mudou. O setor de serviços, intensivo em mão de obra, ganhou espaço onde a indústria perdeu.

Quais os riscos de uma economia mais baseada em serviços do que em indústria?
Não existe na literatura acadêmica evidência de que a indústria seja superior a serviços em investimento, tecnologia e produtividade. Não dá para comparar cabeleireiro com fabricante de equipamentos para poços de petróleo. Mas o setor de serviços não é só isso. Pode incluir pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de ponta.

Qual o papel da indústria na reativação da economia?
Pelo visto o país quer um setor industrial grande. Há basicamente dois modelos. Os EUA têm o que eu chamo de indústria hipermercado. Produzem de tudo, de sapato a equipamentos médicos de alta tecnologia. Já alemães e coreanos focam em engenharia e tecnologia de ponta. São modelos, e precisamos encontrar o nosso. Com o grau de globalização do mundo, não é razoável acharmos que vamos produzir o que quer quer seja como a China, que tem mão de obra mais barata.

Qual seria nossa vocação?
Um setor que é fantástico e altamente competitivo, e que as pessoas não enxergam como indústria, é o agroindustrial. Com essa infraestrutura em frangalhos que temos, como um produtor lá no interior do Brasil consegue escoar sua produção para o porto e vender no exterior a um preço competitivo?

Qual sua expectativa para o PIB em 2012?
Acho que em 2013 chegamos perto de 4%. Neste ano, está praticamente impossível crescer mais de 2%.

Qual comparação a sra. faz entre as políticas econômicas de Dilma, Lula e FHC?
Comparar com FHC é muito difícil, porque são momentos absolutamente distintos da economia brasileira. O governo FHC estava construindo a estabilidade macroeconômica e esse foi seu grande legado. O país não tinha credibilidade nenhuma no exterior. Ele plantou as sementes que Lula colheu mais tarde.

E entre Dilma e Lula?
Em termos de cenário externo, Lula surfou uma onda inacreditável, mesmo com a crise de 2008. A Dilma pega um cenário externo mais hostil. Por outro lado, ela tem um projeto para o país, mesmo que não saibamos muito bem o que é. O Lula tinha um projeto de permanência no poder. Ela tem visões maiores. Se concordamos ou não, é outra história. O que eu acho ruim na Dilma é o seu viés intervencionista. As medidas de proteção à indústria e de conteúdo local não vão fazer bem para o país. Mas até seu intervencionismo é pragmático. O plano de concessões mostrou isso. Ela parece querer mostrar que não tem medo de mexer nesses ninhos de vespa.



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