Economia
Entrevista com o Nobel Michael Spence.
Na FOLHA de hoje, entrevista com Michael Spence, Nobel
de economia americano.
Para
o economista americano Michael Spence, ganhador do Nobel em 2001, o discurso de
que a China rouba empregos dos outros países não faz sentido. Para ele, a
atração de mão de obra barata não é boa estratégia econômica.
Spence
ainda afirma que o país asiático está prestes a deixar de ser a fábrica barata
do mundo. Segundo ele, a tendência é que outros emergentes, em fases anteriores
de desenvolvimento, assumam esse papel, conforme já aconteceu com outros
centros manufatureiros nas décadas passadas.
O
especialista também argumenta que os países emergentes estão mais ricos e mais
conectados uns com os outros e que tendem a se desassociar da crise na Europa.
Ele
diz que o Brasil pode sustentar seu crescimento econômico, mas deve ficar
atento à diversificação da economia.
Folha
- A crise econômica de 2008 se espalhou rapidamente em todo o mundo e terminou
de forma relativamente rápida em países como o Brasil. O sr. acha que a crise
atual será mais longa?
Michael
Spence - A crise tinha uma história de alavancagem excessiva, desequilíbrios e
problemas estruturais. A crise atual é em parte uma extensão das mesmas
questões. Se a Europa avançar, será menos grave. Haverá apenas um período longo
e difícil de ajustamento estrutural para restaurar padrões sustentáveis de
crescimento e emprego. Mas outro cenário é uma grande recessão na Europa
causada por uma incapacidade de lidar com as questões da zona do euro. Nesse
segundo cenário, a crise será dura e de longo prazo.
Qual
é o caminho para evitar esse cenário mais duro?
Não
existe maneira de certamente eliminar os riscos do cenário pessimista. Se a
Grécia eventualmente sair, criará riscos de contágio. Mas o fator principal
para controlar o risco é conduzir reformas bem-sucedidas na Itália e na
Espanha. E ter a Alemanha e o Banco Central Europeu de volta para estabilizar
bancos e dívidas dos governos, com o FMI (o que significa o resto do mundo)
apoiando. As reformas institucionais para a disciplina fiscal também têm que
prosperar. Se todas essas coisas funcionarem, o risco permanece em nível
controlável. Mas devo dizer que haverá retração econômica por um ano ou dois,
mesmo no cenário mais positivo.
O
senhor vê a possibilidade de diminuição no número de países que compõem a zona
do euro?
Definitivamente
sim. Os líderes estão tentando evitar esse desfecho, mas eu não acho que seja
sábio. Nem é bom para Grécia e provavelmente tampouco para Portugal. Uma zona
do euro menor e mais homogênea poderia ser um bom resultado. Ela poderia se
expandir depois. Mas realmente eles têm que elaborar um mecanismo de ajuste
para quando os países deixam de ser competitivos e têm problemas de
produtividade. Ninguém tem uma boa resposta para essas questões ainda.
O
senhor acha que os países emergentes vão repetir o desempenho que tiveram na
crise passada, quando mantiveram a demanda por commodities e garantiram algum
crescimento global?
Há
desaceleração nas economias emergentes, mas é relativamente leve até agora. Deve
haver uma espécie de repetição do desempenho pós-2008, desde que a Europa
avance.
Os
fatores que garantiram o crescimento de países como China, Índia e Brasil podem
ser sustentados agora? E por quanto tempo?
Indefinidamente.
São países saudáveis fiscalmente e geridos de forma eficaz do ponto de vista
macroeconômico. Eles estão mais ricos, maiores e negociam muito uns com os
outros. Estão parcialmente dissociados [da crise], embora não completamente.
Ainda dependem de uma quantidade substancial de demanda agregada dos países
avançados. O grau de dissociação irá aumentar gradualmente ao longo do tempo.
De
que maneira o grau de dissociação aumentará? E caso a Europa não avance e o
impasse político impeça a resolução dos problemas econômicos, quais seriam as
principais formas de contágio para os emergentes?
Existem
dois canais. Um é a economia real. Se a economia decresce, cai a demanda por
importações, com consequências para os emergentes. O impacto varia entre os
diferentes países porque eles sentem de modo diverso os movimentos de preço das
commodities e a demanda por serviços (no caso da Índia). O segundo canal é o
financeiro. Os mercados emergentes estão voláteis agora com a combinação de
riscos domésticos e globais. Essa volatilidade tornará empresários e
consumidores mais cautelosos, o que pode reduzir a demanda doméstica. Tendo
dito isso, o nível de dissociação continua aumentando. Só não está completo.
Há
rankings em que o Brasil aparece como a sexta maior economia do mundo. Como o
senhor analisa a trajetória de crescimento do país?
A
trajetória de crescimento do Brasil é excelente. A inclusão está aumentando e
ajudando a sustentar o crescimento e a reduzir a desigualdade de renda. É um
padrão sustentável. A gestão macroeconômica é muito boa. É preciso cuidado para
não permitir que o aumento do preço das commodities, que beneficiou o Brasil,
cause uma redução no padrão de diversificação da economia e reduza as
oportunidades de emprego. Um fundo soberano bem administrado seria uma boa
ideia, eu acho.
No
discurso do Estado da União [em que anualmente o presidente americano presta
contas ao Congresso], Barack Obama pediu a empresários para trazerem de volta
os empregos que haviam deslocado para a China. Esse tipo de apelo é eficaz?
Não
faz sentido trazer empregos de baixo valor agregado da China ou de outros
países em desenvolvimento. O que podemos fazer é competir em empregos de maior
valor agregado -mas não nos empregos muito tops, em que vamos bem de qualquer
forma. Os modelos deveriam ser mais a Alemanha, o Japão e a Coreia do Sul.
A
base para atrair empresas para a China tem sido a mão de obra barata. Essa
situação persistirá?
Isso
está prestes a mudar, tal como aconteceu na Coreia do Sul e no Japão no passado.
A China irá se mover para rendimentos mais elevados e o trabalho intensivo nas
manufaturas irá migrar para emergentes em fases anteriores de desenvolvimento.
A
migração já começou? Para onde?
Começou,
por exemplo, para o Vietnã, Bangladesh e para a Índia em alguma medida. Isso
não é novo. A Coreia costumava fabricar sapatos e vestuário nos anos 1980 e
1990 e isso migrou para Vietnã, China, Indonésia etc. Hong Kong costumava
fabricar vestuário e houve mudança para Cingapura e outros países.
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