Economia
Educação e crescimento econômico.
FERNANDO VELOSO, 44, é pesquisador do Ibre/FGV e escreveu este artigo especialmente para a FOLHA.
A educação é amplamente reconhecida como um dos principais determinantes do crescimento
econômico. De fato, alguns dos países que mais cresceram nas últimas décadas
-Coreia do Sul, Hong Kong e Cingapura- aparecem regularmente no topo das
avaliações internacionais do nível de aprendizagem dos estudantes.
Existem pelo menos três mecanismos por meio dos quais a educação pode estimular
o crescimento. O primeiro fator está relacionado à elevação do nível de
qualificação da população e, em função disso, da produtividade do trabalho.
Os outros dois estão associados à sua importância para o progresso tecnológico.
Por um lado, a educação aumenta a capacidade de inovação na economia e favorece
o surgimento de novas tecnologias. Além disso, facilita a absorção de
tecnologias já existentes e sua adoção no processo produtivo.
A despeito das diversas razões teóricas e dos casos de sucesso, somente na
última década a relação empírica entre educação e crescimento foi claramente
estabelecida. O processo por meio do qual isso ocorreu contribuiu de forma
importante para a compreensão do papel da educação para a elevação do padrão de
vida da população.
Em um conhecido estudo publicado dez anos atrás, "Where Has All the
Education Gone?", Lant Pritchett mostrou que, apesar de vários indicadores
educacionais terem melhorado significativamente nas últimas décadas em vários
países da África e da América Latina, o crescimento desses países foi nulo ou
mesmo negativo se analisado durante o mesmo período. As evidências empíricas
encontradas por Pritchett foram alçadas à categoria de "paradoxo da
educação" por William Easterly em seu livro "The Elusive Quest for
Growth", o que motivou uma série de estudos.
Dentre as várias explicações, a mais importante foi a que estabeleceu o papel
crucial da qualidade da educação. Em várias pesquisas, Eric Hanushek mostrou
que o nível de aprendizagem dos alunos, medido pelo seu desempenho em testes
padronizados de matemática e ciências, tem um grande impacto no crescimento
econômico.
Além disso, a qualidade da educação tem um efeito muito maior no desempenho
econômico do que medidas de quantidade, como taxas de matrícula e número de
anos de estudo da população.
Segundo Hanushek, o fraco crescimento econômico da América Latina em comparação
aos países do Sudeste Asiático deve-se em grande medida ao fato de que, apesar
dos progressos em indicadores de quantidade, a qualidade da educação nos países
latino-americanos ainda é muito baixa.
O desafio para esses países será complementar o acesso à escola com políticas
que assegurem um nível elevado de qualidade da educação. Disso dependerão suas
perspectivas de crescimento econômico sustentado.
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