Economia
Economistas discutem a economia de Dilma.
Na FOLHA, matéria sobre a atual política econômica e, como não poderia deixar de ser, com economistas em posições opostas.
O Brasil está fadado a ter crescimento medíocre no
governo Dilma Rousseff, porque o modelo econômico dos últimos anos está
esgotado. Esse é o argumento do economista Samuel Pessôa, pesquisador do
Instituto Brasileiro de Economia da FGV, no artigo "O contrato social da
redemocratização e seus limites", publicado na revista "Interesse
Nacional".
No momento em que se debate se a desaceleração da
economia é conjuntural ou estrutural -o PIB cresceu menos de 1% no primeiro
semestre, em comparação com o mesmo período de 2011-, o artigo gerou discussão
nos meios econômicos.
O crescimento no período Lula foi calcado na
redução do desemprego e na elevação da capacidade utilizada, dois fenômenos que
não voltarão a ocorrer, diz Pessôa, que é colunista da Folha.
Ele afirma que, de 2005 até hoje, o crédito e o
aumento da renda real das classes menos favorecidas alimentaram o consumo e
foram o combustível do crescimento. A taxa de crescimento de consumo e investimento
somados -taxa de absorção- ficou acima da taxa de crescimento da produção.
Esse modelo chegou a um limite porque eleva
salários, corrói a competitividade e gera desindustrialização. "E Dilma é
mais ideológica, faz a leitura de que a indústria é um setor especial, não vai
permitir que a desindustrialização continue avançando."
Bráulio Borges, economista-chefe da LCA
Consultores, é uma das vozes discordantes. "A ideia de que o modelo dos
anos anteriores estaria esgotado não me convence", escreveu Borges em
artigo na Folha semana passada.
"Primeiro, porque aqueles que advogam essa
tese apontam que esse modelo teria se esgotado por ser baseado apenas em
expansão do consumo, sem a contrapartida do investimento. Mas os próprios dados
do IBGE mostram que esse não foi o caso: o peso do investimento no PIB, que foi
de pouco mais de 16% na média de 2000 a 2007, saltou para cerca de 19% na média
de 2008 a 2011."
Para Alexandre Schwartsman, professor do Insper e
ex-diretor do Banco Central, o modelo só foi efetivo enquanto houve ganhos
crescentes nos preços de commodities -que em 2011 atingiram um pico histórico. "Com a desaceleração global, não vamos manter
esses ganhos ano após ano", diz o colunista da Folha. "O
modelo não está necessariamente esgotado, mas, com a nova realidade, ficamos
com um crescimento bem abaixo do teto de 3%, em vez de 4,5%."
Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e
fundador da Gávea Investimentos, concorda com Pessôa. "É natural e desejável que o consumo cresça, e
que parte desse crescimento ocorra através do crédito, mas sem exageros. No
entanto, o crescimento da demanda precisa vir acompanhado do crescimento da
oferta, o que não vem acontecendo em ritmo suficiente para manter o crescimento
do PIB em 4%, 5% ao ano", disse à Folha. Segundo o Banco Central, o endividamento das
famílias é de 43,4% da renda.
No texto, Pessôa diz que uma das grandes bandeiras
da presidente -a redução da taxa de juros- tem seus efeitos superestimados.
Segundo ele, a redução do custo de rolagem da dívida pública terá impacto
pequeno. O setor público paga cerca de 5% do PIB de juros.
Descontada a correção monetária e a tributação sobre os juros, os ganhos não
passariam de 1,5% do PIB. "O efeito não é desprezível, mas não é a
salvação da lavoura que vem sendo anunciada."
Mais à esquerda, o economista Luiz Gonzaga
Belluzzo, professor titular do Instituto de Economia (IE) da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), vê simplismo nessa conclusão. "A queda da taxa de juros vai gerar outros
benefícios além da economia com o pagamento, os bancos estão criando novos
instrumentos financeiros mais compatíveis com financiamento de longo prazo, que
terão impacto no crescimento", diz.
No artigo, Pessôa também afirma que a série de
medidas de desoneração e conteúdo nacional adotadas pelo governo nos últimos
anos para estimular a indústria e o consumo reduzem a eficiência e a
produtividade.
Segundo Schwartsman, o governo tenta usar o mesmo
remédio aplicado após a crise de 2008 -mas dessa vez não está funcionando. "Em 2008, as medidas de estímulo tiveram mais
efeito porque saíamos de um nível de desemprego mais alto e utilização de
capacidade mais baixa. Agora, a eficácia dessas mesmas medidas, que o governo
tentou usar novamente, é limitada."
Luiz Fernando de Paula, presidente da Associação
Keynesiana Brasileira e professor titular da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ), discorda. "Dada a conjuntura atual, de forte tendência à
desindustrialização, é melhor do que nada. Fundamental é mexer no binômio taxa
de juros alta/câmbio apreciado, combinado com uma política industrial
inteligente que estimule exportações de maior valor agregado."
Economistas à esquerda e à direita concordam em um
ponto: o novo pacote de concessões anunciado pela presidente Dilma, caso bem
executado, vai no caminho correto -aumentar investimentos, a capacidade de
oferta da economia brasileira. É o contrário das medidas de estímulo dos últimos
meses -mais focadas em aumentar o consumo com reduções de impostos.
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