Economia
ECONOMIA COM WILLIAMSON.
Na FOLHA DE S. PAULO de hoje, entrevista com o economista JOHN WILLIAMSON, nascido no Reino Unido, em 1937 e Pesquisador do Peterson Institute for International Economics em Washington.
Em seu artigo mais famoso, de 1990, cunhou o termo "Consenso de Washington" que incluía 10 políticas, incluindo liberalização comercial e financeira.
O mercado financeiro tem sido indulgente com o Brasil.
O forte aumento de gastos públicos nos últimos dois anos contribui para o crescente deficit em conta-corrente e, se o governo não realizar ajuste fiscal, "chamará problemas" para o país.
Essas são as opiniões do economista John Williamson, do Peterson Institute for International Economics, sobre a conjuntura brasileira.
Williamson ficou famoso mundialmente pela elaboração, há duas décadas, do controverso receituário liberal que ficou conhecido como Consenso de Washington.
O economista é especialista em assuntos relacionados à economia internacional e conhece bem o Brasil, onde lecionou na PUC-RJ por três anos no fim dos anos 1970.
Williamson defendeu em artigo recente que o regime de câmbio brasileiro poderia ser aperfeiçoado com a adoção de uma espécie de referência para o real, que seria estabelecida pelo governo, mas que não teria obrigatoriedade de intervenção. Leia a seguir trechos da entrevista de Williamson à Folha.
Folha - Quais são as chances de sucesso das medidas anunciadas pelo governo brasileiro para conter a valorização do real? John Williamson - Acho que foram bem-sucedidas em alguma medida, considerando que a taxa de câmbio em relação ao dólar não voltou para o nível que estava antes da crise [financeira internacional].
Acho que isso é um sucesso modesto. As chances de um sucesso completo são muito remotas. Levar a taxa de câmbio para acima de R$ 2 por dólar não é realista porque muitas pessoas querem investir no Brasil agora.
Quais são os maiores riscos associados ao real forte?
Isso implica um deficit em conta-corrente. Mas é necessário mantê-lo em um nível razoável. Um deficit de 2%, 3% do PIB (Produto Interno Bruto) é sustentável, mas, se o deficit chegar a 5%, 6% do PIB, levantaria preocupações sobre o futuro do Brasil.
O que o governo pode fazer para evitar que o deficit em conta-corrente aumente significativamente? Cumprir a promessa de promover um ajuste fiscal?
Certamente o nível atual de gastos do governo é preocupante. O governo Lula conseguiu aumentar seus gastos enormemente sem levantar suspeitas dos mercados. Acho que, de forma geral, houve uma certa indulgência [da parte dos mercados] em relação a isso.
Há risco de que os mercados se tornem menos indulgentes com o Brasil?
Sim, essa é a preocupação, claro. Um deficit em conta-corrente chama problemas para o futuro. Aumenta o nível da dívida em relação ao PIB e não se sabe quanto dessa dívida os mercados vão aceitar.
Não acho que seja uma preocupação de curto prazo. Mas isso é justamente o que causa preocupação, porque governantes podem se "safar" no curto prazo, por isso fazem isso [aumentar gasto].
O governo tem como promover um ajuste fiscal grande?
Sim, acho que isso pode ser feito.
Mesmo considerando que parte do aumento de gastos foi canalizada para reajustes do salário mínimo que tiveram impacto permanente em outras despesas?
Algo que o Brasil precisa urgentemente é reduzir o número das despesas vinculadas ao salário mínimo, particularmente aposentadorias [do setor público] daqueles com altas rendas.
Mesmo com sua alta popularidade, o governo Lula não fez isso.
Bem, Lula não tentou fazer isso. Ele parecia estar feliz em ter as aposentadorias vinculadas ao salário mínimo. Mas esse é o tipo de reforma que se espera do Brasil.
O senhor propôs uma mudança no regime cambial brasileiro que envolveria a adoção de uma espécie de taxa de câmbio de referência. Como isso funcionaria na prática?
A maior diferença [com outros modelos] é que o governo faria um pronunciamento oficial de qual é a taxa de câmbio desejável, em vez de fingir que não tem opinião sobre a taxa de câmbio. Mas eles claramente têm uma visão e as pessoas querem ter alguma indicação sobre qual é o nível desejável.
Essa referência cambial não pode ser inconsistente com perseguir a meta de inflação?
O regime de metas não seria afetado porque o anúncio do nível desejável da taxa de câmbio não representaria uma obrigação de intervir. Seria apenas um pronunciamento dizendo qual taxa de câmbio o governo considera desejável. Os agentes saberiam, no entanto, que o governo poderia intervir para manter a taxa de câmbio próxima ao nível desejado.
A vantagem é que daria uma orientação aos investidores reais do que eles podem esperar no longo prazo, e também alertaria os especuladores sobre o perigo de perder seu dinheiro porque o governo não estaria disposto a aceitar uma taxa de câmbio valorizada e poderia intervir em algum momento.
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