José Manuel Pinto Alvelos– Prof. Economia/UFS; Pro Reitor de Administração.
Lá pelos idos de 1959_1960, quando eu era menino de “calças curtas” na cidade de Estância, fazendo o primário na Escola de D. Joaquina na Rua da Baixa (Rua General Pedra) quase em frente ao “velho” Hospital Amparo de Maria ao fim da tarde quando se encerravam as aulas, em grupo íamos caminhando pelo “Beco do Cruzeiro” que findava no cemitério, apreciar numa alegria incontida as caçambas, máquinas, tratores, rasgando e trabalhando para construir o “asfalto”, que hoje se intitula a BR-101, no contorno da cidade e margeando o Rio Piauitinga. Nossas excursões se estendiam desde a “velha ponte de pau” da cachoeira, passando pela centenária “ponte do Bomfim”, até o limite da cidade na “granja”, onde hoje se localiza o Distrito Industrial de Estância.
Passados então 40_50 anos, pelo espírito empreendedor de sua gente a cidade se expandiu criando ruas, avenidas e bairros como Alagoas; Conjunto Pedro Barreto; Conjunto Valadares; Bairro Valter Cardozo; Conjunto Paulo Amaral e outros, integrando pelo lado leste da BR-101 a cidade a esta. Já pelo lado oeste, pelo contorno natural do Rio Piauitinga, ergueram-se além de bairros como Alecrim; Piauitinga; Camaçari, sobretudo a expressiva estrutura industrial de Estância destacando-se firmas como: S/A CONSTÂNCIO VIEIRA; GUFI; SULGIPE; MARATÁ; FRUTOS TROPICAIS; BRAHMA; EVEL; CROWN QUÍMICA; DUAS RODAS; TOPFRUIT; etc. Percebe-se assim que a BR-101, além da integração nacional do eixão Nordeste/ Sudeste/ Sul, para cargas e passageiros terrestres, tornou-se um divisor da cidade em sua urbanidade de trabalho, saúde, lazer, cultura, comércio, educação, .
Hoje em 2011 é o tempo da duplicação da BR-101, assim novos desafios se colocam e merecem serem avaliados. Para simplificar faremos 03 (três) hipóteses:
A) duplicação pelo leito existente; B) duplicação pelo lado Oeste (Conjunto Alecrim/ Bonfim/ Zona industrial); C) duplicação pelo lado Leste (por trás do Conjunto Paulo Amaral; Bairro Valter Cardozo; Forródromo).
Mas por que fazer o exercício das respostas a estas hipóteses? Para enfrentarmos o título deste artigo: Desenvolvimento e Urbanismo. Assim, avancemos preliminarmente em três pontos.
Em primeiro lugar, a natureza do Desenvolvimento e do Urbanismo, pode dar-se tanto de forma “espontânea” como “induzida”. Pela primeira, o caráter empreendedor, a visão e o acerto na aposta do mercado, podem traduzir-se em progresso, renda, emprego, riqueza, bem estar social etc. Já pela segunda, o planejamento dos agentes públicos, o caráter regulatório do estado, o bem público, também pode traduzir-se em progresso, renda, emprego, riqueza, bem estar social, etc. Certamente o que não deve acontecer é a contradição quanto aos resultados a serem alcançados. Portanto, para ser repetitivo o objetivo central é obter progresso, renda, emprego, riqueza, bem estar social, etc. Feita esta qualificação, avancemos sobre outro tema.
Em segundo lugar, a Universidade Federal de Sergipe, através do Magnífico Reitor Prof. Dr. Josué, quando da sua posse em 2004 propôs um pacto com a sociedade sergipana para fazer avançar o Ensino Superior Público no Estado de Sergipe, naturalmente compondo esforços com o Governo Federal, com o MEC, Governo Estadual, Governos Municipais, com a Classe Política, com a Sociedade Civil, as Forças Eclesiásticas, os Agentes Econômicos, dentre outros, para levar a interiorização da UFS para Propriá; Glória; Itabaiana; Lagarto; Estância. Após muitos esforços, estão instalados os Campi de Itabaiana, Laranjeiras e Lagarto.
Já o de Estância merece um aprofundamento. Sendo um Campus focado nas Engenharias, em função da natureza industrial da Cidade e da polarização sobre o Centro-sul sergipano e norte do estado da Bahia, especialmente Camaçari/Aratu, deverá ter 10 Engenharias, a saber: Civil; Mecânica; Elétrica/Eletrônica; Computação; Química; Minas; Naval; Petróleo; Produção; Materiais. Quando plenamente instalado, para um horizonte de 3 a 5 anos deverá ter de 6.000 a 7000 alunos, 250 professores PhD., 80 técnicos administrativos, um investimento global de R$60.000.000,00 e um requerimento de 100 a 120 hectares para a sua implantação física agregando uma “incubadora” e um “parque tecnológico”. Daí, a importância deste Campus para Desenvolvimento e Urbanização de Estância e vice-versa.
Em terceiro lugar, a ligação de Estância com o seu litoral é sonho de mais de 40 anos. Um primeiro passo dessa epopéia deve-se ao Prefeito Raimundo Souza, Seu Bedóia, Rubens Silva, que resultou na “ponte de Pau” e a ligação ao litoral. Um segundo passo completou-se com a “ponte de concreto” o asfaltamento da via até ao Abaís e entroncamento com a “Linha Verde de SE”, atravessando os governos Augusto Franco, João Alves, Albano Franco. Um terceiro passo deu-se com a edificação das Pontes “Joel Silveira” (Mosqueiro/ Caueira) e “Gilberto Amado” (Estância/ Indiaroba) já no governo Deda e com o rasgo e alargamento de estradas vicinais a partir do Bairro Botequim, no sentido leste com construção de pontes, restando uma última Sobre a maré do Rio Fundo, para a qual já esta alocada uma Emenda Parlamentar do ex-deputado Albano Franco no Valor de R$20.000.000,00, que deixa Estância a 15_17 km do litoral. E aqui temos que ter um entroncamento desta estrada vindo do litoral com a cidade.
Portanto, colocados estes três pontos, voltemos à duplicação da BR-101 e às hipóteses, A); B); C); e suas repercussões sobre o Desenvolvimento e a Urbanismo de Estância.
Na hipótese, A) duplicação pelo leito existente – constata-se que pelo intenso trânsito de hoje a BR-101 tem uma dupla função: servir de eixão Nordeste/ Sudeste/ Sul para cargas e de avenida central para Estância e cidades circunvizinhas que dela utilizam o seu aparato urbano. As áreas físicas em seu entorno, encontram-se edificadas e em alguns pontos até saturadas, sendo as vias de acesso ao núcleo central da cidade, limitadas e estranguladas. Esta opção aparta a cidade, ficando a maior malha urbana na parte leste e na oeste a estrutura industrial (para entrega de insumos e saída de produtos industriais) e a ligação da estrada SE que vai para Boquim. Criam-se evidentes riscos para pedestres e veículos, com crescentes chances de acidentes, atropelamentos e óbitos, ademais não se agrega emprego, renda ou riqueza nova, equivalente ao investimento a ser realizado, perdendo-se a oportunidade única do Estado “induzir” a geração de riqueza “nova”.
Já na hipótese, B) duplicação pelo lado Oeste (Conjunto Alecrim/ Bonfim/ Zona industrial) – esta por sua natureza está definida no Plano Diretor da Cidade de Estância, desde a época do extinto CONDESE (Conselho de Desenvolvimento Econômico de SE) como a zona de expansão industrial da cidade, posto que além dos vazios no espaço, incorpora mão de obra especializada e tem farta disponibilidade de água a partir dos Rios Piauitinga e Piauí e portanto não merece uma ação “induzida” do Estado que comprometa as suas potencialidades para o Anti-Desenvolvimento e o Anti-Urbanismo.
Por fim, resta a hipótese, C) duplicação pelo lado Leste (por trás do Conjunto Paulo Amaral; Bairro Valter Cardozo; Forródromo) – aqui se trata de um “anel viário” que circunscreva todo o espaço urbano atual de Estância criando uma nova “perimetral”. Aquilo que nos anos 1959_1960 foi cumprido pelo atual traçado da BR-101, que hoje se tornou avenida urbana. Além de criar um espaço urbano para novos bairros, ruas, praças e atividades econômicas, de lazer, educacionais e sociais, entrelaçam pelo lado Leste no sentido do litoral com a futura estrada ligando a Praia à cidade no já citado percurso de 15_17 km. Neste sentido, a ação “indutora” do gasto público gera “ progresso, renda, emprego, riqueza, bem estar social, etc”, trazendo uma “taxa interna de retorno positiva na relação custo/ benefício social”, como a exemplo ocorreu em Feira de Santana (BA) com o seu “anel viário” e/ou em São Paulo (SP) com o “Rodoanel”.
Com certeza, assim os meninos de 9_10 anos de hoje não mais de ”calças curtas”, mas de “bermudas”, antes de partir para o mundo, sentirão um brilhar nos olhos como aquelas alegrias dos anos idos vividas por mim e meus colegas, por respirar progresso e os de 18_23 anos por poder aspirar ser “Engenheiro” e ter um futuro promissor.
Para terminar, que a duplicação da BR-101 e o Campus de Engenharias da UFS em Estância, seja, a partir da Política e da Cultura, como sujeitos da história, temas para pavimentar o Desenvolvimento e Urbanismo, trazendo “ progresso, renda, emprego, riqueza, bem estar social”, porque como fala Fernando Pessoa “...navegar é preciso; viver não é preciso...”.
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