Economia
Delfim explica a nova poupança.
O
texto do professor Antonio Delfim Netto hoje na FOLHA é tão didático e
esclarecedor que não posso deixar de postar para os meus dois fiéis
leitores. Pura utilidade pública.
A
mudança no regime da caderneta de poupança facilitará não apenas o objetivo de
trazer a taxa de juro real do Brasil ao nível internacional mas também a vida
das famílias que encontram naquele instrumento o refúgio seguro, líquido e
certo.
Para
entender isso, lembremos que elas abrigam quase 100 milhões de depositantes,
98% dos quais têm poupança inferior a R$ 50 mil, num montante total que em
março de 2012 atingia R$ 429 bilhões.
Suponhamos
uma família que tem um depósito de R$ 2.000 para atender a uma emergência, pelo
qual ela recebe 6,37% ao ano (R$ 128) correspondentes ao juro acumulado mensal
de 0,5% (6,17%) somado à Taxa de Referência fixada pelo BC (0,2%).
Suponhamos
ainda que essa mesma família tenha uma dívida de R$ 1.000 mantida constante
durante todo o ano e pela qual um credor altruísta cobre apenas um juro de
2,84% ao mês (40% ao ano), ou seja R$ 400. Qual é o resultado dessa conta sobre
os rendimentos da família? Ela recebe de juros R$ 128 e paga de juros R$ 400.
Logo, sua conta de juros é negativa em R$ 272.
Suponhamos,
agora, que a taxa Selic, que está hoje em 9%, seja reduzida para 7,5% e
permaneça neste nível durante um ano. O que acontecerá com o rendimento da
poupança da família?
Com
relação ao depósito já feito de R$ 2.000, absolutamente nada! Ele continuará a
receber os mesmos R$ 128, com as mesmas garantias. Apenas os eventuais novos
depósitos (a nova caderneta) serão creditados pela nova regra (70% da Selic +
TR) à taxa de juro de 5,45% ao ano.
Qual
a diferença de rendimento anual de R$ 2.000 produzido pela mudança? Na
caderneta velha, ele recebe R$ 128. Na nova, R$ 109, ou seja, uma diferença de
R$ 19.
A
aritmética "terrorista" dirá à família que ela perdeu 14,8% do seu
rendimento (R$ 19/R$ 128), exatamente o oposto do que sentirá no bolso no fim
do ano, se o credor altruísta tiver de reduzir a sua modesta taxa de juros de
2,84% ao mês (40% ao ano) para 2,21% (30% ao ano) -o que, no fundo, é o
objetivo da política do governo quando insiste em pressionar as taxas de juros.
O
resultado é simples. Com seu "estoque" de R$ 2.000 na caderneta
velha, ele continuará a receber R$ 128, mas o juro da sua dívida cairá, se a
política econômica tiver sucesso, digamos, de 40% para 30% ao ano.
Qual
o resultado final para a família? Ela economizará R$ 100 no pagamento dos
juros, que poderá depositar na caderneta nova ou, eventualmente, ampliar o seu
consumo!
Repetindo
Pascal, podemos dizer que, "nesses tempos, a verdade é tão obscura e a
mentira tão bem estabelecida que não a enxergaremos a menos que nos esforcemos
muito".
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Comentários: (1)
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