Economia
De volta à rua
A conjuntura económica, as “modas e tendências” nas práticas comerciais e de consumo, bem assim como diversos factores associados às políticas locais (urbanismo, mobilidade, trânsito, segurança, etc.) têm vindo a ter repercussões diferenciadas, no tempo e na dimensão do impacto, sobre os diferentes formatos de espaços comerciais.
De uma forma geral, houve um período em que se pensou que o comércio tradicional estaria irreversivelmente condenado à decadência e ao encerramento paulatino, à medida que os consumidores pareceram seduzidos pelas mega superfícies comerciais, muitas delas situadas nas zonas suburbanas das principais cidades.
Ainda hoje, sucedem-se os anúncios das aberturas de aglomerados de vários milhares de metros quadrados de áreas de vendas, a que estão sempre associados uns milhares de postos de trabalho (por muito precários e mal pagos que sejam, nomeadamente nas vozes das estruturas sindicais), com um leque de lojas diversificado e rico, fortemente atractivo para os olhos dos consumidores e altamente ameaçadores para a base do tecido empresarial tradicional.
A este nível, mais do que obstar incondicionalmente a tais novos projectos, sem prejuízo do necessário escrutínio do cumprimento da legislação em vigor, creio que a principal preocupação do comércio tradicional e de quem conduz as políticas públicas deve ser orientada para a disponibilização de “apoios efectivos que permitam a sua reestruturação em termos globais, desde os horários à adequação às necessidades do mercado, em termos de qualidade e diversidade da oferta”.
Embora ajustada a esta realidade, a citação anterior foi extraída de um contexto diverso mas sempre actual, constituindo-se como um pequeno excerto das conclusões de um estudo do Observatório do Comércio sobre as implicações da alteração dos horários de funcionamento dos hipermercados já com vários anos.
Em certo sentido, foi este mesmo espírito que esteve, como está, na base dos diferentes projectos de urbanismo e modernização comercial, orientados que foram e são para a revitalização dos centros das cidades e a requalificação das lojas tradicionais, assentes em meritórias parcerias entre entidades públicas e privadas.
Ao longo dos anos, porém, constatou-se uma diminuição na adesão a estes programas e uma maior dificuldade em mobilizar o investimento privado para o desenvolvimento de projectos inovadores.
A justificação para tal facto prende-se sobretudo com factores atrás enunciados, como sejam o ambiente concorrencial e o meio envolvente a estas unidades comerciais.
No primeiro caso, porém, a redefinição e indefinição hoje existente em torno de muitos dos grandes projectos implantados e a implantar, cujos promotores começam a reforçar o grau de rigor das suas estimativas, pode funcionar como incentivo para o comércio nas zonas tradicionais.
Na segunda vertente, os consumidores optam sempre por soluções que lhes garantam conforto, segurança e mobilidade, sendo que a evolução diferenciada do “comércio de rua” entre as várias localidades resulta também das diferentes estratégias desenvolvidas pelas Autarquias e demais entidades públicas e privadas.
Em cidades como Braga, por exemplo, nomeadamente nas zonas dos centros urbanos/históricos, o tempo implicou a degradação de edifícios que, por não serem objecto de cuidada manutenção e reparação, desvalorizam a identidade urbana, reduziu-se o poder de compra residente, geraram-se focos de insegurança face à insuficiente ocupação e animação, criaram-se descontinuidades culturais entre residentes e visitantes e os espaços estão pouco preparados para facilitar a mobilidade a pessoas dotadas de deficiência, proliferando as barreiras arquitectónicas e urbanísticas.
Todavia, esta não é uma tendência irreversível, sendo que os benefícios de uma diferente abordagem podem ser muito significativos.
É claro que teremos também que somar aspectos endógenos ao sector, como sejam a aposta na formação profissional dos trabalhadores e gestores das pequenas e médias unidades comerciais, o aumento da promoção, o estabelecimento de projectos de cooperação entre empreendedores, seja de forma informal, seja através dos meios associativos representativos, entre muitos outros.
Tudo somado, talvez se consiga de facto promover a ansiada criação de “centros comerciais a céu aberto" que funcionariam ainda como meios de revitalização dos centros históricos.
A oportunidade existe. Será aproveitada?
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