De Portugal a Pequim
Economia

De Portugal a Pequim



No momento em que escrevo estas linhas, os Portugueses ainda estão a acabar de “lamber as feridas” da primeira semana de desilusões com a prestação dos nossos atletas nos Jogos Olímpicos de Pequim.
Desde esta madrugada, porém, o bom desempenho da Vanessa – desculpem a familiaridade mas assim é que nós tratamos os nossos que ganham -, o promissor arranque do Nelson e os resultados positivos na vela fazem-nos supor que o quadro acabará por não ser tão negro quanto o estávamos já a pintar.
Sendo um extraordinário evento desportivo, as Olimpíadas são, como sempre foram, um veículo de afirmação da capacidade social, económica e até política de cada uma das Nações presentes.
Uma boa prestação dos atletas de cada País é, assim, uma manifestação de força da “raça” (se posso também usar o mote Presidencial) e um estímulo para o reforço do orgulho nacional.
Em épocas de especiais desencantos como aquela que hoje vivemos mais premente se torna a necessidade de encontrar vias alternativas de fortalecimento da alma mater lusitana.
Mas, pode perguntar-se: será efectivamente legítima a avaliação tão crítica que dirigimos ao grosso da representação nacional nos Jogos?
Pessoalmente, confesso que não deixei de contribuir para o engrossar do coro de impropérios e adjectivos menos simpáticos que foram dirigidos a muitos dos nossos atletas, em especial àqueles em que depositávamos maiores esperanças na obtenção de bons resultados.
Fi-lo, todavia, por via desse maldito hábito de um adepto fervoroso do Desporto que sempre tenta assistir em directo às prestações dos representantes portugueses nestas competições.
Poucas horas depois, o duche matinal e o bom senso recuperado depois da noite mal dormida volta a trazer à liça a questão: seria expectável termos a nível desportivo uma prestação muito superior à que temos nos demais quadrantes da sociedade?
Quantos portugueses temos na elite mundial em cada uma das vertentes artísticas? Quantas são as personalidades políticas de referência no plano internacional? Quantas das nossas empresas e gestores estão entre os melhores do seu sector a nível mundial? Em que lugar nos posicionamos nos rankings internacionais de competitividade, produtividade e demais indicadores de desempenho?
Será assim tão mau termos vários atletas entre os vinte, trinta ou quarenta melhores do mundo na sua especialidade? Neste prisma, o terem conseguido a qualificação para os Jogos é ou não a “medalha” a que muitos podem aspirar e que nos deve deixar satisfeitos?
Se uma empresa vê os seus resultados aumentar, se aumenta o seu volume de vendas, a quota de mercado, a qualidade ou notoriedade dos seus produtos pode ser criticada por não estar no topo do sector?
Se um atleta bate as suas marcas pessoais ou até recordes nacionais, ainda que fique em últimos nas suas provas, deve merecer qualquer reparo?
Há, também, as ditas desilusões, aqueles que se posicionavam no topo dos rankings mundiais, que acumulavam resultados de relevo e mesmo títulos internacionais e cujas prestações não corresponderam ao desejado.
Mas seremos assim exigentes no dia-a-dia das nossas vidas? Com os nossos governantes e autarcas? Com os gestores das empresas públicas? Com os empreendedores privados? Com as associações empresariais? Com os sindicatos? Com os trabalhadores em geral? Com cada um de nós?
Quantos não teriam que mergulhar diariamente no banho de humildade do “menos português” dos nossos e apresentar-se perante os seus pares, pedir desculpa pelas suas falhas e assumir, talvez, que é tempo de mudar de vida?
Desde que dêem o melhor de si, que deixem tudo o que têm nas piscinas, pistas, tapetes, campos e demais palcos das provas dos Jogos Olímpicos em que participam, creio que a resposta às questões que coloquei só pode ser negativa. E tal não se deve confundir jamais com a falta de ambição.
Aquilo de que tenho mesmo certeza é que, daqui por quatro anos, não voltarei a acordar de madrugada para ver provas de judo, atletismo, ciclismo, remo, triatlo, trampolins, esgrima, etc..
Afinal, os Jogos Olímpicos são em Londres…



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