Economia
DA SÉRIE "TEXTO DE QUEM ESCREVE BEM"
Neste final de semana, escolhi como o meu texto favorito, um artigo do PAUL KRUGMAN, nosso Nobel de Economia em 2008 e colunista do The New York Times, com o sugestivo título "COMBATENDO A DEPRESSÃO."
Boa leitura aos meu quase dois leitores e uma boa semana. Sem crises.
"Se não agirmos de forma rápida e ousada", declarou o presidente eleito Barack Obama em seu mais recente discurso semanal, "nós poderemos ver uma retração econômica mais profunda que poderia levar a um desemprego de dois dígitos". Se você me perguntar, ele estava atenuando o caso.
O fato é que os recentes números econômicos são assustadores, não apenas nos Estados Unidos, mas ao redor do mundo. O setor manufatureiro, em particular, está despencando em toda parte. Os bancos não estão emprestando, as empresas e os consumidores não estão gastando. Não vamos medir palavras: isto se parece muito com o início da segunda Grande Depressão.
Logo, nós agiremos "de forma rápida e ousada" o suficiente para impedir que isso aconteça? Nós descobriremos em breve.
Nós não deveríamos nos ver nesta situação. Por muitos anos a maioria dos economistas acreditava que impedir outra Grande Depressão seria fácil. Em 2003, Robert Lucas, da Universidade de Chicago, declarou que o "problema central na prevenção à depressão foi resolvido, para todos os fins práticos, e foi resolvido na verdade há muitas décadas".
Milton Friedman, em particular, persuadiu muitos economistas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) poderia ter detido a Depressão simplesmente fornecendo aos bancos mais liquidez, o que teria impedido a queda acentuada na oferta de dinheiro. Ben Bernanke, o presidente do Fed, famosamente pediu desculpas a Friedman em nome de sua instituição: "Você está certo. Nós erramos. Nós sentimos muito. Mas graças a você, não erraremos de novo".
Na verdade, entretanto, impedir depressões não é tão fácil. Sob a liderança de Bernanke, o Fed tem fornecido liquidez como uma equipe do corpo de bombeiros tentando apagar um incêndio e a oferta de dinheiro está aumentando rapidamente. Todavia o crédito permanece escasso e a economia ainda está em queda livre.
A alegação de Friedman de que a política monetária poderia ter impedido a Grande Depressão foi uma tentativa de refutar a análise de John Maynard Keynes, que argumentava que a política monetária é ineficaz sob as condições de depressão e que a política fiscal - gastos deficitários em grande escala pelo governo - é necessária para combater o desemprego em massa. O fracasso da política monetária na crise atual mostra que Keynes acertou na primeira. E o pensamento keynesiano está por trás dos planos de Obama de resgatar a economia.
Mas esses planos podem ser difíceis de vender.
O noticiário diz que os democratas esperam aprovar um plano econômico com amplo apoio bipartidário. Boa sorte para eles.
Na verdade, a dissimulação política já começou, com os líderes republicanos erguendo bloqueios à legislação de estímulo ao mesmo tempo em que posam como campeões da deliberação legislativa cuidadosa - o que é engraçado considerando o comportamento de seu partido nos últimos oito anos.
De forma mais ampla, após décadas declarando que o governo é o problema, não a solução, sem contar o desprezo à economia keynesiana e ao New Deal, a maioria dos republicanos não vai aceitar a necessidade de uma solução de grandes gastos, tipo Franklin Delano Roosevelt, para a crise econômica.
O maior problema diante do plano de Obama, entretanto, provavelmente será a exigência por muitos políticos de provas de que os benefícios dos gastos públicos propostos justificam seus custos - um ônus de prova nunca imposto às propostas de redução de impostos.Este é um problema com o qual Keynes estava familiarizado: dar dinheiro, ele apontou, tende a ser recebido com menos objeções do que os planos de investimento público, "que, por não serem um desperdício total, tendem a ser julgados segundo princípios rigidamente 'comerciais'". O que se perde nessas discussões é o argumento-chave para o estímulo econômico - o de que sob as condições atuais, um aumento dos gastos públicos empregaria americanos que caso contrário estariam desempregados e dinheiro que caso contrário estaria ocioso, colocando ambos para trabalhar produzindo algo útil.
Tudo isso me deixa preocupado a respeito das perspectivas do plano de Obama. Eu estou certo que o Congresso aprovará o plano de estímulo, mas temo que o plano será adiado e/ou reduzido. E Obama está certo: nós realmente precisamos de uma ação rápida e ousada.
Este é o meu cenário de pesadelo: o Congresso leva meses para aprovar um plano de estímulo, e a legislação que surge ao final é cautelosa demais. Como resultado, a economia despenca por grande parte de 2009 e, quando o plano finalmente começa a entrar em vigor, ele é suficiente apenas para desacelerar a queda, não impedi-la. Enquanto isso, a deflação se estabelece, enquanto empresas e consumidores começam a basear seus planos de gastos na expectativa de uma economia permanentemente deprimida - bem, você consegue ver onde isso vai parar.
Logo, este é o nosso momento da verdade. Nós faremos de fato o necessário para impedir a Segunda Grande Depressão?
loading...
-
A Pequena Depressão.
Hoje na FOLHA DE S. PAULO, o Nobel PAUL KRUGMAN escreve sobre os riscos de desastre global: Segundo ele, "As negociações de dívida, se derem certo, repetirão o grande erro de 1937: opção prematura por contração fiscal freará a recuperação."
Estes...
-
Uma NotÍcia Que Tem O Seu Valor
No VALOR ECONÔMICO de hoje, uma boa notícia para início de final de semana:
Obama reorganiza mais de 1/3 da economia americana.
Uma coisa tem de ser dita sobre o presidente americano, Barack Obama: ele não joga na retranca. Grande parte da agenda...
-
Da SÉrie "texto De Quem Escreve Bem"
SE até o Nobel PAUL KRUGMAN está considerando-se PERDIDO neste início de 2009, nesta crise que a cada dia aparece com uma notícia ruim, imagine nós, aprendizes na arte da Economia, procurando o ponto de equilíbrio para solucionar esta situação....
-
Paul Krugman - Dia Da PremiaÇÃo Nobel
Hoje é o dia que a Academia Real de Ciências de Estocolmo premiará o nosso Nobel em Economia: PAUL KRUGMAN. Minha homenagem a esse grande Economista é publicando seu mais recente artigo sobre se "O GASTO DE HOJE PREJUDICARÁ A ECONOMIA DE AMANHÃ?"...
-
Paul Krugman: Fracasso De Política Econômica Norte-americana Tem Dedo De Oposição Política
Há muito o que se criticar sobre a forma como o presidente Barack Obama lidou com a economia. Mas a história dominante dos últimos anos não são os erros de Obama,mas a oposição destrutiva dos republicanos, que fizeram tudo o que podiam para obstruir...
Economia