Crescimento (falta de) - investimento ou produtividade? (I)
Economia

Crescimento (falta de) - investimento ou produtividade? (I)


Ailton Braga argumenta, na edição de hoje do Valor Econômico, que a queda da taxa de crescimento de longo prazo no Brasil está relacionada com uma grande redução na taxa de investimento, ocorrida a partir de 1981:

"Observando-se a série de investimentos em relação ao PIB, a preços de 2005, desde 1970, é possível identificar a principal causa do baixo crescimento da economia brasileira desde a década de 1980: a forte redução da taxa de investimentos. Na década de 1970, período de forte expansão do PIB, os investimentos, a preços de 2005, situaram-se entre 29,7% e 36,6% do PIB. A partir de 1981, os investimentos em relação ao PIB declinaram rapidamente e desde 1999 variaram entre 19% e 21,5%, os níveis mais baixos do período em análise. Na China, a taxa de investimentos, em 2004, foi de 38,7% do PIB e na Índia, 30,1%.
Em trabalho de 2005, Edmar Bacha e Regis Bonelli, estimaram que para uma taxa de investimento de 19% do PIB, o estoque de capital cresceria 2,1% ao ano, o que seria compatível com crescimento anual do PIB de 2,1% a 3,2%. De 2003 a 2006, considerando-se para 2006 a estimativa do boletim Focus, o PIB teve crescimento médio de 2,7% ao ano, portanto, dentro do intervalo estimado por Bacha e Bonelli. Utilizando a mesma metodologia desenvolvida pelos dois autores, expansão do PIB de 4% a 4,5% ao ano exigiria taxa de investimentos de cerca de 25%".

Um trabalho recente oferece outra explicação para a redução da taxa de crescimento de longo prazo da economia brasileira. Em sua análise das "décadas perdidas" no Brasil, Flávia Graminho, economista do Banco Central do Brasil, sugere que o baixo crescimento nos anos 80 se deveu a um choque de produtividade negativo, relacionado com o fechamento da economia que se seguiu ao aumento dos preços do petróleo e à crise da dívida externa. As restrições à importação teriam levado à redução da competição e à substituição de máquinas e equipamentos importados por similares nacionais de menor eficiência, reduzindo a produtividade total dos fatores. Nos anos 90, com a abertura comercial, a produtividade total cresceu a taxas semelhantes às da década de 70, de modo que o baixo crescimento deve ter tido outra motivação. De acordo com a autora, uma explicação possível seria o aumento do custo do trabalho, associado com as "distorções" no mercado de trabalho introduzidas ou ampliadas pela Constituição de 1988.




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